Celibato de padres

picture (84)Concordo com leitores que consideram abelhudos e metidos a besta alguns jornalistas. O celibato dos padres, por exemplo. Ora, se não sou padre, por que, então, meter o bico num possível casório deles? Mas há uma desculpa: se o Vaticano se mete até no leito conjugal das pessoas que se amam, por que o casório de padres não pode ser assunto de salão de barbeiro, além de encontros teologais?

De minha parte e metendo o bico, concordo com o Vaticano: padre não deve se casar. No meu entender, seria uma besteira sem tamanho. Quando padres amigos meus me pediram opinião, não hesitei: é besteira. Pois, em meu mísero entender, padre, quando se casa, não fica nem padre e nem fica marido. Mas sei haver exceções.

Ora, ninguém é insensível a situações e vazios difíceis na vida sacerdotal: a solidão de um padre, a sua vida afetiva, necessidade de calor humano, um lar com família, filhos. Mas casar é besteira, ainda acho eu. Pois uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, alguém falou isso e gostei. Casamento não é para padre, pelo menos para padre católico. Se se casar, o padre se complica todo e complica a Igreja junto. Ora, casamento é loteria e quem disser o contrário disfarça. Até as mais belas histórias de amor não falam o que aconteceu depois que os amantes se casaram. Sabiamente, os narradores dizem que a Bela Adormecida e o Príncipe Encantado, por exemplo, foram felizes para sempre. Espertos, os contadores de história não narraram o que houve depois da lua-de-mel. Por outro lado, escritores geniais impediram seus amantes de se casarem: Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, até mesmo Adão e Eva.

A Santa Madre Igreja sabe o que faz. Por isso, ela é esposa e mãe, sem ser amante.Padre, casando-se com a Igreja, será adúltero se se casar com mulher. E vice-versa. Imagine, na cama, a mulher perguntando-lhe: “Você está comigo ou com a Santa Madre, meu amor?” A complicação é infinita, confusão sem fim

Alguns exemplos de confusão? Métodos artificiais de controle da natalidade. A mulher do padre poderá usar pílula? E a camisinha? O padre poderá usá-la? E se e quando o casal – o padre e a mulher do padre – já estiver com filhos adolescentes, orientará a garotada em exacerbação sexual? Será que dirão, conforme manda a Igreja: “Não usem camisinhas, filhos, porque o Papa não deixa. Sejam castos. Se não der, podem até pegar Aids, mas camisinha, não.” Aqui, ó.

E aqueles dias da mulher, hein? Imagine a cena: a mulher do padre vai à igreja para dar um alô ao maridinho e o vê no confessionário atendendo, digamos, à paroquiana publicamente assanhada. Estaria, o padre, preparado para aqueles dias de fúria da mulher? Pois ela, na cena em questão, pode ter um ataque: “O que aquela piranha confessou para você? Não me diga que teve coragem de perdoá-la! Ou estavam marcando encontro?”

E se o padre se apaixonar por outra mulher ou ela, por outro? Imagine a mulher do padre, apaixonada, fugindo com o sacristão. E se ela, tornando-se feminista ferrenha, sair por aí queimando sutiã e defendendo o aborto? E se, na hora da separação, ela reivindicar metade da casa paroquial ou até mesmo da igreja onde ele foi vigário? E se o filhinho do casal resolver fumar maconha? E se a filhinha decidir ser mãe solteira? E a sogra do padre? Eis aí outra terrível questão: a sogra do padre.

Por isso, estou com o Papa e não abro: é besteira padre casar-se. Mulher é mesmo mais inteligente. Nunca soube de movimento de freiras reivindicando o direito a maridos e filhos. Já pensou, a Madre Superiora casada? E bom dia.

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