O petróleo é nosso, sim

Cresci, logo após o término da II Guerra Mundial, ouvindo um brado que se tornou tão retumbante quando o do hino nacional: “O petróleo é nosso”. Eu estava no antigo curso primário e já se falava sobre isso. As lutas de Monteiro Lobato para provar a existência de petróleo no Brasil datavam ainda da ditadura de Getúlio Vargas. Aliás, em São Pedro e em Águas de São Pedro, aqui ao lado, houve tentativas de perfuração, com apostas sérias de que, deste solo caipiracicabano, o óleo e o gás gerariam em abundância.

O grito ecoava pelo Brasil, espalhava-se, a criançada cantava como se fosse um refrão de algo que mal sabíamos fosse tão fundamental para a vida brasileira:”O petróleo é nosso.” E, depois, quando já nos primeiros anos de ginásio, nos grêmios estudantis, o brado continuava, as passeatas aconteciam nas ruas, o refrão cívico aumentava em tonalidade e vigor: “O petróleo é nosso.” A vitória surgiu em 1953, quando se criou a Petrobrás, um ano antes do suicídio de Getúlio Vargas.

Uma curiosidade histórica que, no entanto, é de uma ironia cruel: um dos líderes da campanha nacionalista foi o militar Felicíssimo Cardoso, tio de Fernando Henrique Cardoso que, por sua vez, foi o homem que quebrou o monopólio da Petrobrás, na sanha tucana de privatizar e de terceirizar o Brasil, incluindo áreas e questões estratégicas.

O Iraque foi invadido pelos Estados Unidos não por causa da tragédia das Torres Gêmeas, mas pelo controle do mar de petróleo em seu subsolo. Toda a luta em relação aos países árabes se deve à busca do domínio do petróleo, uma das fontes energéticas essenciais e que começa a escassear. O medo que se tem de Hugo Chávez não é por suas idéias esdrúxulas de bolivarianismo, mas pelo petróleo que se torna a principal arma de negociação, de pressão e de dissuasão da Venezuela. Em sumo: o petróleo é, ainda, o ouro negro que desperta cobiças, que produz guerras, que gera riquezas e produz misérias quando a injustiça social impera sobre os direitos e a dignidade dos povos.

O Brasil, ainda na contramão da história, tem grupos de pressão e de poder que buscam, desesperadamente, manter as teorias econômicas neoliberais – que elegem o mercado como o deus todo poderoso a comandar o universo – privilegiando empresas multinacionais, grupos financeiros poderosíssimos aos quais, desgraçadamente, grande parte dos meios de comunicação estão vinculados. E estes, meios de comunicação, estão esperneando desesperadamente no esforço inútil de provar que a defesa do petróleo brasileiro, a grandeza do pré sal, seria apenas um surto doentio de nacionalismo, como se nacionalismo não fosse um bem e um valor que precisam, quando com visão saudável, ser preservados.

O petróleo é nosso, sim. Por isso, a Petrobrás tem que ser preservada e tornar-se imune a essas pragas corrosivas que habitam almas perniciosas como as dos senadores Álvaro Dias e Arthur Virgílio, que se tornaram porta-vozes de tudo o que não interessa ao Brasil como país livre, soberano e já, sim, uma nova força mundial. A oposição, no Congresso Nacional, está defendendo um Brasil submisso, tentando desmoralizar Lula, um homem que, saindo das oficinas operárias, se vai revelando um estadista respeitado em todo o mundo. Há preconceitos doentios contra Lula, idiossincrasias que tornam seus críticos infantilizados e até mesmo emburrecidos diante de evidências cada vez mais claras.

Fossem honestos esses críticos, deixariam de procurar pelo em ovos, tentando colar em Lula e em alguns de seus aliados a corrupção centenária e generalizada na política brasileira. Há corrupção, sim. Mas é geral. Ora, não simpatizo com o PT, votei contra Lula duas vezes, votei finalmente a favor e, hoje, reconheço sua importância para o país. Negá-lo é desonestidade intelectual. Mas essa desonestidade tornou-se virótica: por que se fala do namorado da neta de Sarney, mas não da filha de Fernando Henrique que era funcionária fantasma do Senado; por que não se falam dos negócios do grande tucanato, das indústrias de medicamentos genéricos, dos sanguessugas, das máfias da ambulância e da habitação? Por que a imprensa não revela o que anda acontecendo nos bastidores do Governo de São Paulo? Por que é condenável Lula aliar-se a Sarney e é louvável José Serra aliar-se a Orestes Quércia? Por que é condenável o governo federal ter maioria na composição de CPI no Congresso, mas é normal que CPIs contra o governo de São Paulo e do Rio Grande do Sul tenham a influência do tucanato para formar maioria? Essa hipocrisia saturou a opinião pública.

Somente cegos ou ignorantes não percebem que já foi dada a nova e grande largada em defesa da nacionalidade, de um nacionalismo que irá consolidar esses novos tempos de um Brasil finalmente grande, poderoso e justo. O grito “o petróleo é nosso” está de volta. Aposto que, contra isso, estarão os mesmos grupos que tentaram impedi-lo há mais de 50 anos passados. Mas o petróleo é nosso, sim. E é a motivação que faltava para o povo ir às ruas novamente e, enfim, defender o que realmente é nosso. Bom dia.

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