Tarsila do Amaral: rica, bela, talentosa

A região caipiracicabana foi berço de grandes talentos artísticos, literários, musicais. O intercâmbio cultural entre Piracicaba, Capivari e Tietê foi formidável e, disso, surgiram nomes importantes para a literatura, musica e pintura brasileiras.

Tarsila do Amaral é uma das principais pintoras brasileiras, participante do grupo  modernista e inspiradora do chamado movimento antropofágico brasileiros. Nasceu em Capivari, em 1º de setembro de 1886, na Fazenda São Bernardo, que hoje se situa no município de Rafard. Seus pais – José Estanislau do Amaral e Lydia Dias Aguiar do Amaral – eram fazendeiros ricos e poderosos. Tanto assim que o avô de Tarsila – com o mesmo nome do pai, José Estanislau – era conhecido como “o milionário”, devido ao sem número de fazendas que possuía no Estado de São Paulo.

Rica, de família influente, Tarsila foi criada na Fazenda Santa Tereza do Salto, em Monte Serrat, onde fez os primeiros estudos e ficou até a adolescência. Sua família teve imensas propriedades também na região de Piracicaba, entre São Pedro e Charqueada. Seus parentes, em Piracicaba, foram figuras de destaque, como o professor Sylvio de Aguiar Souza, também jornalista que assinava artigos com o pseudônimo de Antônio Calixto, e Osório de Souza, advogado, jornalista e músico, entre eles.

Em São Paulo, foi aluna do Colégio Sion, completando  os seus estudos em Barcelona, na Espanha, onde pintou, aos 16 anos, o seu primeiro quadro, “Sagrado Coração de Jesus”. Em 1906, casou-se com André Teixeira Pinto, de quem teve a única filha, Dulce. O casamento se desfaz rapidamente e Tarsila passa a dedicar-se às artes, iniciando com o estudo de escultura, em 1916, com os já consagrados Zadig e Mantovani, em São Paulo. Em seguida, torna-se aluna de Pedro Alexandrino dividindo, com ele, o seu primeiro ateliê, na rua Victoria, em 1917.

Sucesso na Europa

Sempre apoiada pelos pais, Tarsila decide, em 1920, estudar na Europa. Seu objetivo é ingressar na “Académie Julian”, em Paris. Torna-se amiga de artistas e intelectuais franceses, freqüenta o ateliê de Émile Renard. Conhece os movimentos renovadores da arte européia mas os seus movimentos são ainda tímidos, pois não admite separar-se de sua filha Dulce. Estuda e pinta muito, ainda dedicando-se à arte acadêmica. E, em 1922, vê todo o seu talento reconhecido quando uma de suas telas é admitida no Salão Oficial dos Artistas Franceses.

Reconhecida na Europa, Tarsila retorna ao Brasil onde se integra ao já existente grupo modernista, responsável pela Semana da Arte Moderna de 1922. Tarsila torna-se  parte do “grupo dos cinco”: Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Menotti del Picchia e ela. Desse encontro, começa o namoro com Oswald de Andrade . E, com ele, dedica-se  inteiramente ao Modernismo.

Tarsila e Oswald

A paixão de Tarsila e Oswald agita os meios artísticos. Os pais de Tarsila recusam-se a aceitar o namoro.  Em 1923, ela e Oswald mudam-se para a Europa onde se integram aos modernistas europeus, pintores, músicos, poetas, intelectuais. Estuda com os cubistas Albert Gleizes e Fernand Léger, mantém estrita amizade com o poeta franço-suiço Balise Cendras, inicia sua pintura “pau-brasil”, toda ela voltada a cores e temas brasileiros. Em 1926,  Tarsila e Oswald casam-se.

Para presentear Oswald por seu aniversário,  Tarsila  pinta, em 1928, a obra que a consagraria, o “Abaporu”. Daquela tela, Oswald cria o Movimento Antropofágico. Em 1929, Tarsila faz a sua primeira exposição individual no Brasil. E é a última ao lado de Oswald, de quem se separa em 1930.

Pressão de Getúlio

Os anos 30 apanham Tarsila do Amaral em grande participação política. Torna-se socialista, mantém contatos com a União Soviética, inicia a sua fase de pintura social. É de 1933 outro de seus famosos quadros, “Operários”, com que inicia sua pintura engajada. Tarsila expõe no I Salão de Belas Artes de São Paulo, em 1934. Getúlio Vargas pressiona os intelectuais de esquerda. Tarsila é perseguida, junta-se ao intelectual Luíz Martins, com quem vive cerca de 20 anos, até meados dos anos 50, trabalhando, para sobreviver, como colunista nos “Diários Associados”.

A I Bienal de São Paulo, em 1951, tem a participação de Tarsila que voltara ao tema “pau brasil”. Na VIII Bienal paulista, em 1963, é homenageada com sala especial. Em 1966, sofre a grande dor: morre Dulce, sua única filha. Famosa, consagrada, envelhecida e triste, Tarsila do Amaral morre em São Paulo no dia 17 de janeiro de 1973.

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