A Inhala Seca

Foi num tempo longe do agora, no fim do século passado, no tempo da escravidão. Em Piracicaba, lá pelas bandas do Morro do Enxofre, de vez em quando, onde havia um mato cerrado, aparecia a INHALA SECA. Não se sabe quem afirmou que um dia ela havia sido gente viva.

Morreu de tísica e foi enterrada no antigo cemitério de Piracicaba (local onde foi posteriormente construido o Grupo Escolar Moraes Barros).

Depois de sete anos, o coveiro reabriu a vala onde havia sido colocado o cadáver de INHALA, encontrou-o intacto – dizem que não faltava um único fio de cabelo. Sepultaram-no novamente. Passados mais cinco anos, abriram a cova pela segunda vez. Qual não foi o espanto dos presentes: Lá estava ainda o corpo da morta intacto …
Sem saber qual a atitude a ser tomada, como já estava escurecendo, os coveiros deixaram o corpo seco da INHALA de pé, encostado na cerca do cemitério. Porém, quando no dia seguinte voltaram para enterrá-la novamente, o corpo seco da INHALA havia sumido…

– Fale baixo!… Quer morrer apedrejado? INHALA SECA tem ouvido de tuberculosa, ouve de longe! Ela traz consigo o vento, para que os seus passos, quebrando galhos no mato, não sejam escutados.

Feia, muito feia, e muito magra; com os dedos longos e secos, armados de enorme unhas, mostrando sob os farrapos e folhas, os ombros esqueléticos. Segundo os que tiveram a desventura de “topar” com ela, há a informação de que se vestia de mato.

Era horrível mesmo. Tinha * cabeça grande coberta pela cabeleira desgadelhada. Rosto chupado e olhos esbugalhados, vermelhos e acesos.
No “Almanak de Piracicaba para o ano de 1900”, Escolástica Couto Aranha – brilhante figura do magistério paulista, esposa do professor Antônio Alves Aranha, o fundador da Escola Normal de Piracicaba – registrou pela primeira vez o mito da INHALA SECA.

Quando se pretende enfiar o bedelho no passado, o melhor mesmo é ouvir os “antigos”. E os “antigos” dizem que ouviram contar que ela pegava gente e levava para o fundo da barroca…

O mito da INHALA SECA é, sem dúvida uma variante do “Corpo Seco”, homem que passou pela existência terrena semeando malefícios. Ao morrer, nem Deus, nem o diabo, aceitaram sua alma. A própria terra repeliu o seu cadáver, enojada de sua carne. Com a pele engelhada sobre o esqueleto, levantou-se da sepultura, para cumprir o seu fardo …

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