A HISTÓRIA QUE EU SEI (LX)

Perda do ímpeto
Em Piracicaba, os deputados Domingos José Aldrovandi e Salgot Castillon haviam perdido todo o ímpeto dito revolucionário. Os seus chefes políticos – Adhemar de Aldrovandi; Carlos Lacerda, de Salgot – haviam sido marginalizados e a idéia da Frente Ampla começou a ser propagada. O próprio Pacheco e Chaves, sem mandato na época, estimulava, em nome de Juscelino Kubitschek, o movimento. Luciano Guidotti não tinha habilidade para composições políticas, que eram feitas pelo irmão João Guidotti. O outro irmão, Luiz, estava rompido com Luciano e João, liderando com Aldrovandi e Salgot, o fortalecimento da ARENA.

Piracicaba poderia, neste ano, ver um velho sonho, o de ter uma Universidade Estadual, realizar-se. Mas foi Campinas quem viu a criação da UNICAMP, tendo como primeiro reitor e um de seus batalhadores – o Prof. Zeferino Vazo. Piracicaba perdia a parada, pois o deputado Salgot Castillon apresentara na Assembléia Legislativa o projeto criando a Universidade “Luiz de Queiroz”, que abrigaria a E.S.A. “Luiz de Queiroz”, a Faculdade de Odontologia, criando-se faculdades de Medicina, de Engenharia e outras, além de absorver algumas, na região, que estivessem sob regime de institutos isolados. O Governador Abreu Sodré comprometera-se com a iniciativa. No entanto, Piracicaba dividiu-se, não aceitou o projeto, especialmente no próprio mundo universitário, através das reações contrárias de professores da E.S.A. “Luiz de Queiroz” e da própria Faculdade de Odontologia. Havia um bairrismo arraigado, com um universo pequeno, como a prever que Piracicaba ia-se esgotando como cidade moderna, sem qualquer projeto político ou comunitário, movendo-se, apenas, pela ação isolada e personalista de suas lideranças individuais. O próprio Zeferino Vazo criador da UNICAMP, sentiu o peso desse bairrismo quando, tendo vencido a parada e vendo derrotada a idéia da criação da Universidade “Luiz de Queiroz”, tentou o apoio da comunidade para que a Faculdade de Odontologia passasse a pertencer à UNICAMP. Foi uma luta, as vozes locais eram contra, preferindo que a escola permanecesse como instituto isolado a vê-la pertencer a uma universidade. A voz poderosa, por exemplo, do vibrante advogado e jornalista Jacob Diehl Neto se fazia ouvir refletindo a opinião da cidade: era contra. Luciano Guidotti não se movia, mais preocupado com a criação da Fundação Municipal de Ensino, que aconteceria no final de 1967. Mas a idéia lhe era desagradável pois, se fora Samuel de Castro Neves quem adquirira o prédio da Faculdade de Odontologia, comprando-o às irmãs de São José, fora Luciano quem a instalara na cidade, sendo um projeto do então deputado Bento Dias Gonzaga. O próprio Bento Gonzaga protestava: “Não admitam a transferência de minha Faculdade …” – dizia, enfatizando o possessivo.

Em 1967 o E.C.XV de Novembro, sob o comando de Humberto D’Abronzo, retomou à Divisão Especial. Foi uma festa memorável, com o povo nas ruas. Um dos padres novos da Diocese, o padre Walmor Mendes, vigário de Saltinho, participou da passeata popular, “benzendo” a bola. Humberto D’Abronzo estava no auge da popularidade e sua candidatura era tida como certa, apoiada e estimulada por Luciano Guidotti.

Os assessores principais da ação política de Humberto D’Abronzo eram o ex-ministro interino da Agricultura, José Cartos Pfiffer, e o Prof. José Benedito Jordão, responsáveis pelos entendimentos com o mentor político de Luciano, o irmão João Guidotti. O “Diário Oficial do Município”, instalado em Dezembro de 1966, dava total cobertura aos feitos administrativos e aos interesses políticos do “guidotismo”.

A crise política, no Brasil, começava a agravar-se. Em Piracicaba, ter sido “revolucionário” já passava a ser uma questão desagradável de ser abordada. A resistência aos militares se acentuava. Neste ano de 1967, a “Folha de Piracicaba” deixou de circular para sempre. A crise econômica a atingira em cheio, boicotada pelo empresariado e por inspiração de Luciano Guidotti, pois os seus fundadores haviam-se afastado dela, impotentes diante da linha jornalística adotada por seus redatores, independente e de oposição. Neste ano, ainda, D. Aníger Melillo instalava o Movimento de Cursilhos de Cristandade em Piracicaba. O primeiro alvo prioritário: a área de comunicação. O segundo, não por menor importância, mas por dificuldades iniciais: o universo político.

A linha da Igreja Católica, mais participante e aberta aos leigos, entusiasmava as pessoas, animando especialmente os mais jovens.

1 comentário

  1. Pedro Paulo Krähenbühl em 02/11/2015 às 18:07

    Mais um belo resumo de nosso querido Cecílio Elias Netto de nossa história política. Parabéns.

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