A HISTÓRIA QUE EU SEI (XVIII)

Fim do “samuelismo”
Deixando a Prefeitura, Samuel de Castro Neves também abandonou a vida pública, muito embora a sua influência permanecesse, ainda, junto a parte do eleitorado.

Esse prestígio político-eleitoral, Samuel de Castro Neves não conseguiu transferi-lo para o filho Francisco que, por sua vez, mostrou muito mais aptidão e talento para atuar, politicamente, na esfera estadual e federal, sem grandes vinculações com o município.

Francisco de Castro Neves, com a ascensão de Jânio Quadros, se tomara homem de confiança da nova estrela política que surgia no cenário nacional.

A trajetória de Jânio Quadros fora fulminante: de vereador, em 1949, chegara a deputado estadual, elegera-se prefeito de São Paulo em 1953 – quando convidou Valentim Amaral para ser Secretario de Finanças da capital – e, em 1954, numa eleição dramática, de apuração tensa e nervosa até as últimas umas, Jânio Quadros conseguira o que parecida impossível: chegar a Governador de São Paulo, derrotando Adhemar de Barros, o maior líder do populismo paulista. O “janismo” estava nas ruas, empolgando o povo. Jânio Quadros era o “homem da vassoura”, com uma proposta moralizante e austera de governo “ademarismo” sofria um golpe.

A morte de Getúlio Vargas – suicidando-se em 24 de Agosto de 1954 – deixou os “getulistas” piracicabanos também órfãos. O PTB, do qual Samuel de Castro Neves era líder, sentiu-se esvaziar. O herdeiro político chamava-se João Belchior Goulart, que fora Ministro do Trabalho. Mas João Goulart era incapaz de preencher o vazio político deixado por Getúlio Vargas. O “samuelismo” era, assim, golpeado em sua própria razão de existir: Samuel de Castro Neves afastava-se da política, a bandeira “getulista” estava acabada. Por outro lado, com a derrota de Adhemar de Barros diante de Jânio Quadros os “gonzaguistas” ficaram longe do poder, tendo durado pouco a adesão de Luiz Dias Gonzaga ao “ademarismo”. O tempo dos “coronéis” ia chegando ao fim em Piracicaba, tentando a sua sobrevida com o surgimento, na vida pública, de Bento Dias Gonzaga, filho de Luiz, que se elegeria deputado estadual, passando a dar apoio ao Governador Jânio Quadros. Habilidoso, agradável, simpático, Bento Dias Gonzaga, no entanto, não conseguiria capitalizar o vasto patrimônio político de seu pai. Eram novos tempos. O Brasil mudava mais uma vez.

A estrela ascendente era a do deputado João Pacheco e Chaves, para quem as portas da política nacional se tinham aberto ainda mais a partir do retorno de Getúlio Vargas em 1950. João Pacheco e Chaves tinha-se tomado amigo pessoal do filho de Getúlio, Maneco Vargas, em Piracicaba, onde ambos se formaram na Escola Agrícola. No Ministério da Educação, Ernesto Simões Filho, amigo pessoal dos Pacheco e Chaves, era uma ponte a mais de contatos e de amplitude de relacionamentos. De 1953 a 1954, João Pacheco e Chaves assumia a presidência do Instituto Brasileiro do Café (IBC). Em 1955, eleger-se-ia deputado federal pelo PSD, fazendo parte da bancada pedessista que dava sustentação ao Presidente eleito, Juscelino Kubitschek, que, quando de sua vinda a Piracicaba como candidato à Presidência da República, se hospedara na Chácara Nazareth.

Era um Brasil pronto para novos tempos. A Petrobrás havia sido criada, em 1953. Um surto de nacionalismo corria o país, fortalecendo-se um crescente orgulho nacional, uma fome de desenvolvimento e modernização. A Guerra da Coréia chegava ao fim. Os Estados Unidos explodiam, atemorizando o mundo, a primeira bomba de hidrogênio, a Bomba H. Os vietnamitas venciam os franceses na batalha de Dien Bien Phu, chegando-se ao fim da Guerra da lndochina. No teatro rebolado, os nomes de Wilza Carta, Mara Rúbia empolgavam a imaginação dos brasileiros, enquanto Luz del Fuego e Elvira Pagã, com o seu nudismo, escandalizavam a maioria conservadora da sociedade. No Rio, alguns milionários criaram o “Clube dos Cafajestes”, despontando, por suas aventuras amorosas, Baby Pignatari e Jorginho Guinle. Em 1955, Juan Perón era derrubado do poder na Argentina e a revista “O Cruzeiro” publicava o luxo em que Evita Perón vivia. Em Santa Bárbara d’ Oeste, no mesmo ano, um italiano, que migrara para o Brasil, Emílio Romi, colocava no mercado o primeiro automóvel genuinamente nacional, o “Romi-Isetta”.

Luiz Dias Gonzaga decide candidatar-se a prefeito, sucedendo a seu velho adversário Samuel de Castro Neves. Na Prefeitura, João Basílio preside as eleições de 1955.

*CONTINUA

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