Anjos, passarinho e rosa

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anjos e rosas

Ando vendo coisas espantosas que me causam um arrepio terrível, embora algumas cenas sejam absurdamente inacreditáveis e belas, como a dos anjos com asas. Era madrugada, noite sem estrelas, céu de chuva, quando saí lá fora na rua para ver o tempo.

Espiei o casario dormindo, ouvi o silêncio que amo tanto. Nestes momentos, capto a poesia do invisível. Então, eu os vi. Dois anjos. Estavam no meu pequeno jardim, onde estão plantadas apenas duas pleomelis e três podocarpus.

Perguntei o que faziam ali. Apresentaram-se como  anjos do condomínio, guardavam as casas e estavam de vigia. E por que no meu jardim? Porque rezo muito, porque os invoco sem cessar, peço proteção aos que amo e então resolveram fazer um plantão especial para mim.

Expressei-lhes minha honra por esta deferência, tentando me aproximar. Desapareceram imediatamente. Passei as mãos nos arbustos das pleomelis, busquei algum sinal do que vira, e um ruflar de asas causou um movimento do ar à minha volta.

De outra feita, foi no trânsito. Estava eu dirigindo numa rua de grande movimento e o farol fechou. Abriu, fechou de novo e a fila parada. Foi o tempo suficiente de um passarinho pousar na janela do carro. Olhou-me fixo e perguntou se eu não estava cansada. Sim, sim, muito. O trânsito estava lento demais, eu gripada, fraca… Com o biquinho, ele me indicou o céu azul.

Olhei para cima e as alturas se abriram. Apareceu uma paisagem verdejante, uma campina, com algumas casinhas solitárias junto de árvores frondosas e um riacho cujas águas brilhavam como o sol. Ele assuntou se não desejo voltar para o campo, que lá é o meu lugar. E saiu voando entre a fila de carros.

Passarinho, passarinho! Veio até minha janela, para me inquietar. E me fazer sonhar. Olhei mais uma vez para o alto e a paisagem era o céu azul de novo. O farol abriu e eu prossegui, com algumas lágrimas escorrendo pela face.

A visão mais recente foi em casa, no computador. Comecei a escrever este texto e notei que no monitor se formava uma imagem. Vade retro! Ao me levantar da cadeira para pegar água benta, uma voz suave me chamou pelo nome. E na tela apareceu uma rosa. Amo as rosas.

Transida de medo, meu olhar se fixou na flor. “O que você quer?”, indaguei. Não queria nada, apenas manifestar seu apreço. Todo dia me vê batucando no teclado, respondendo e-mails, postando no Facebook, cumprimentando aniversariantes, pesquisando temas no Google, procurando fotos e matérias, conversando no Messenger com amigos. Perguntou se não me canso. Jamais. Este é o pleno exercício do amor. Do amor às pessoas.

Anjos, passarinho e rosa! Ah, meu Deus, o que é isso? A poesia tem me visitado fisicamente, o sonho se materializa diante dos meus olhos e nada fiz para merecer tanta honra.

Voltem, anjos amados, vigiem no meu jardim. Volta, passarinho. Vem pousar na janela do carro novamente.  Ah, rosa do computador! Se aparecer de novo, tenho algo especial a lhe dizer…

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