Coluna ContraPonto: Insurreição dos hipócritas

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A definição é da nada mais nada menos revista alemã Der Speigel, a mais importante da Alemanha e dentre as mais da Europa e do mundo civilizado.

Não é para menos. Ainda repercute muito negativamente a “votação do impeachment”  consagrado pelos “votos” dos deputados federais no domingo retrasado na Câmara. Ao que se pode pensar, o espetáculo circense não passou de uma operação “Salva-Cunha”, precursora da próxima: a Operação Abafa a Jato. A Nação tiririca, conforme define o jornalista Nirlando Beirão, cegou a Nação brasileira por surtos de estupidez coletiva.

O espetáculo seria apenas ridículo, grotesco e estapafúrdio se não fosse deprimente e desalentador. Os votos de Bolsonaro, Tiririca, Raquel Muniz (aquela do orgasmo histérico do Sim!Sim!Sim!Sim!…, e que exaltara Deus contra a corrupção, mas  que no dia seguinte teve o marido-prefeito de Montes Claros/MG preso pela Polícia Federal), e mais o irônico voto do unânime campeão da corrupção, Eduardo Cunha e da sua tropa de choque de quase trezentos deputados (de alguma forma envolvidos em escândalos de corrupção como lavagem de dinheiro e citações na Lava Jato) escancararam a realidade política – e dos políticos – de nosso País, como nos é permitido razoar. Mau exemplo e vergonha para nós brasileiros, vítimas de negativos comentários em todo o planeta. A ironia só não foi maior porque a discussão sobre por onde iniciar as “votações” –se pelo Sul ou pelo Norte- não levou em conta que esta deveria ter se iniciado pela Lista da Odebrecht. Teria sido muito mais coerente. Mas como cobrar contradições de deputados, ao que parece, tão fisiológicos e de tão baixo nível? A angústia coletiva causada pelos, ao que se pode interpretar, grupos de ódio da Câmara dos Deputados não pode ficar só na indignação; ela tem que se manifestar nas ruas. Não se deve subestimar o quanto a sociedade está mudando.

É preciso desarmar o ódio

As manifestações dos deputados também escancararam a disseminação do ódio e da intolerância; e o Brasil precisa de pessoas sinceras e com espírito de justiça para desarmá-los. O País precisa de grupos antidifamação. A Alemanha de Hitler e a Itália de Mussolini nos alertam sobre os perigos da intolerância e do ódio que fizeram seus grupos, nesses países, chegar ao poder.

Hoje, no Brasil, parece haver muita gente lucrando –materialmente e politicamente – com o ódio e a intolerância. Uma verdadeira indústria de políticos oportunistas e de cínicos que precisa ter fim. A iniciar, ao que se pode interpretar, pela cumplice participação de setores da imprensa, pelos hipócritas e demagogos, e pelos odientos pastores de igrejas sedentos de poder material e político, cuja semeadura do ódio – de quaisquer natureza e por quaisquer justificativas –  não combinam com os ensinamentos crísticos de amor e tolerância. Não há espaço para um “Estado Evangélico” do Mal.

Impeachment e instabilidade

A fim de arejar as mentes daqueles cujas constantes lavagens cerebrais midiáticas tanto mal provocam na consciência, reproduzimos abaixo trechos da entrevista de  Massimo D’Alema, ex-primeiro ministro da Itália à imprensa, em São Paulo, esta semana:

“A situação do Brasil está sob os olhares de toda a opinião pública internacional. A sensação é que é um ataque muito ácido e violento à presidente, a Lula e ao PT; e também muito perigoso para o Brasil. Perigoso no sentido, digamos, do regime presidencialista, em muitos aspectos é discutível, mas tem uma vantagem que é a estabilidade. Há uma evidente violação constitucional. É um precedente que pode criar uma instabilidade no Brasil, pois uma vez que se pegue essa estrada, ela pode se repetir; porque é totalmente evidente que no processo de impeachment não há nenhuma base jurídica fundamentada. Esses dias eu folhei os jornais brasileiros e é impressionante o caráter de propaganda e a falta de qualquer ética profissional. Eu sentia a necessidade de reportar uma pluralidade de opiniões. Aqui estamos diante de uma propaganda, de uma vulgaridade. Não existem os fatos, isso é somente uma propaganda. Isso é claro e é um problema sério da democracia brasileira. É necessária  uma reforma capaz de garantir uma maior pluralidade da informação. Há também essas confusas misturas de presidencialismo e de parlamentarismo que provocam uma negociação contínua entre o presidente eleito, deputados e senadores, um a um; vide a situação do monopólio da informação. Esses são aspectos muito importantes da vida democrática. Além disso, acho eu, que essa mistura de presidencialismo e parlamentarismo favorece a corrupção. Já o governo do impeachment, digamos, seria um governo muito fraco, e seria um governo que rapidamente desiludiria aqueles mesmos que hoje saem às ruas; porque saem às ruas contra: contra Dilma, contra o governo; e porque há também raiva social, pelo que eu entendo. Mas não saem às ruas a favor de Temer ou de Cunha, falemos claramente”.

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Rendo homenagem ao deputado professor Sílvio Costa pelas suas palavras da tribuna da Câmara instantes antes do início da fatídica “votação” pelo impeachment de Dilma Rousseff: “Eduardo Cunha: você é um canalha! Canalha! Ladrão! Corrupto! Você não deveria estar aí sentado nessa cadeira presidindo uma seção da Câmara julgando uma mulher honesta e honrada! Você deveria estar preso! Deveria estar na cadeia! Seu Canalha!”.

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Frase de hoje: “Cadê o Moro?”

1 comentário

  1. Tainá em 10/05/2016 às 10:15

    Para quem não entende de política, mas tem um pouco de sensibilidade poderia ler o texto e refletir.
    #nãoqueroserteleguiada

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