Coluna Contraponto: O País da malandragem

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Quando Gerson Oliveira Nunes, o meia Gerson, -também conhecido como “canhotinha de ouro”, grande maestro do tricampeonato mundial conquistado pela seleção brasileira de futebol na memorável campanha no México em 1970- estrelou o comercial de cigarros Vila Rica (de uma enorme companhia multinacional de cigarros), foi cunhada a “célebre” frase que se transformou na popularização de algo que parecia ser da alma do brasileiro: levar vantagem em tudo. “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica!” era a frase que originou a “Lei de Gérson” na propaganda de cigarros Vila Rica (1976).

Há muito O Brasil conhecido como o País da Malandragem, o autor da peça publicitária, ao estigmatizar o comportamento geral do cidadão brasileiro de então, captou o espírito geral da Nação: a dos cidadãos comuns e a dos políticos comuns. Daquela época e da anterior a ela. E perfeitamente válida para a  nossa, onde parece ser senso comum que não  só gente comum, mas também e principalmente da política só desejam vantagens pessoais. E a extensão dessa realidade é facilmente comprovada no dia a dia do  brasileiro de todos os extratos sociais.

“A lei de Gerson funciona como mais um elemento na definição da identidade nacional e o símbolo mais explícito da nossa falta de ética. Na arraigada cultura brasileira, a famigerada lei de Gérson é uma norma não-escrita, não oficial, segundo a qual a pessoa que gosta de levar vantagem em tudo segue-a no sentido negativo de se aproveitar de todas as situações em benefício próprio, sem se importar com questões éticas, morais ou legais”, como afirmou o escritor sergipano Archimedes Marques.

Ao assistirmos perplexos a ascensão de um presidente da República ilegítimo que “chegou lá” pelas vias  da traição e do golpe; ao vermos “legitimados” com foro privilegiado ( que tem  que acabar!) políticos envolvidos em escândalos de corrupção a compor o atual governo; ao presenciarmos a Câmara dos Deputados e o Senado Federal agirem para proteger, blindar e defender políticos corruptos e atos governamentais claramente antissociedade  em benefício de seus colegas, patrocinadores e doadores de campanha, ao que se pode depreender; ao observarmos a  repugnante nomeação de Alexandre Moraes para o STF – tucano declarado e explícito que poderá estar a julgar atos de seus próprios colegas de partido (Serra, Aécio, Alckmim, dentre outros citados na Lava Jato ou outros escândalos), não dá para não pensar que tudo isso transcende à Lei de Gérson.

Na mesma linha de raciocínio, ao testemunharmos a tentativa do governo Temer-PSDB, com aval do Congresso, de doar toda a infraestrutura de telecomunicações do País   avaliada em U$ 110 Bilhões (!)  às operadoras do setor (aparentemente para salvar a Oi, que é a própria Telemar – do suposto operador das privatizações do governo Fernando Henrique, o banqueiro Daniel Dantas – empresa formada  na privatização do Sistema Telebrás e adquirida a preços absurdamente baixos e financiada pelo BNDES tucano em 1998); ao acompanharmos as manobras nas leis para que o acesso à internet deixe de ser ilimitado e passe a ser franqueado na sua prestação de serviços aos usuários – numa claríssima tentativa de levar vantagem financeira sobre o consumidor já que o custo para o acesso a ela seria maior e  a gerar enormes lucros adicionais às operadoras de telecomunicações; ao darmos conta das operações abafa na Lava Jato; ao constatarmos as vergonhosas e revoltantes posições do Ministro do STF, Gilmar Mendes, a partidarizar a mais alta Corte a favor de aliados- ao que se pode interpretar-, não dá para não pensar que tudo isso transcende à “Lei de Gérson”.

Tudo isso e muito mais – com o fim   explícito de manter as vantagens pessoais, grupais, e empresariais  de financiadores de campanhas políticas,  de políticos e de grupos usurpadores do nosso Brasil – nos leva a pensar que a “Lei de Gérson”  deveria mudar de nome. Para qualquer nome. Indizível ou não.

“Francamente arrependido das suas palavras, Gérson tentou por muito tempo se desvencilhar da fama de patrocinador dos espertalhões, patrono dos corruptos, professor dos desonestos, propagandista dos canalhas… Mas não teve jeito. A lei de Gérson pegou, grudou e ficou. Crucificaram-no, como antes já crucificaram outros inocentes. Cravaram-no em uma cruz pelas suas palavras, não pelos seus atos. Atos esses já devidamente comprovados, que são e sempre foram de um homem honrado, moral, cumpridor dos seus deveres, das verdadeiras leis vigentes e também preocupado com o bem estar e com o futuro daqueles mais necessitados” comenta ainda Archimedes. Bem diferentemente do que toda a sociedade tem visto e ouvido nesse deprimente espetáculo de encenação teatral onde o povo parece ser tratado como “carneirinho”.

Os “carneirinhos” do Brasil, entretanto – ainda e também se  pode pensar- só parecem tomar atitudes de quaisquer natureza sob o comando da mídia, infelizmente. E parecem esperar por  uma Rede Globo ou  uma revista Veja a dar o comando para irem às ruas destituir o governo ou ficarem em casa vendo televisão, tomando suas cervejas e se conformando com a ideia de que “é assim mesmo”. Ou seja, só haverá levante popular contra todo o escárnio do atual governo se a mídia quiser ou for de seu interesse. E ela parece não querer.

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ÓDIO

Está de volta. Parece a Alemanha das décadas  de 1920 , 1930 e 1940. Como ainda há gente pequena em nosso País! A culpa é sempre do outro: do outro governante; do outro partido (e que teriam  de ser exterminados); do cidadão de outra raça, crença ou  ideologia. Muitas correntes de ódio iniciam-se nas centrais de boatos criadas e contratadas para difundir calúnias e desviar a atenção da opinião pública; outras nascem dentro do próprio indivíduo. Para manter o sistema, o que é feito deve ser coerente. O padrão  é reconhecível quando progride em relação ao passado e à própria História. Muitos semeadores de ódio frequentam igrejas e dizem-se cristãos. Pura hipocrisia.  Jesus, o Cristo, veio para decodificar o Amor à humanidade de nosso Planeta, que é o oposto ao ódio. As manifestações de ódio promovidas pelos seus semeadores, como visto na morte de Dona Maria Letícia, vêm de  seres totalmente inúteis à sociedade – civilizadas ou não.

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Frase de hoje: “Jesus é daora, ruim é seu fã-clube”. (Pichação em parede de estabelecimento em avenida de Piracicaba)

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