Cristão e Ecologia

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“A nossa casa comum está sendo saqueada, devastada, vexada impunemente. A covardia em defendê-la é um pecado grave”. (Papa Francisco). “Temos de reconhecer que alguns cristãos, até piedosos e comprometidos, frequentemente deixam de se preocupar pelo meio ambiente. Outros são passivos, não se decidem mudar os seus hábitos e se tornam incoerentes. Falta-lhes, pois uma conversão ecológica, que comporta deixar emergir – nas relações com o mundo que os rodeia – todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa”. (Papa Francisco, Laudato Si 217).

Irmão universal. Assim se sente o cristão. Sabe que tudo está relacionado. Por isso – exceto em casos de necessidade -, recusaria, por exemplo, colocar ar-condicionado em casa. O aparelho além devorar energia, refresca dentro, mas aquece fora. Em igrejas, então, um absurdo. Cristãos lutam por parques, plantam árvores e exigem que o poder público proteja a natureza. Assim tem ar fresco para todo mundo.

Lavar quintal e calçada com água limpa, jogar óleo usado no ralo, ligar água de chuva na rede de esgoto, adulterar medidores, concretar o quintal todo sabendo que isso impede infiltração, aumenta o calor e consome mais água para ser limpo; colocar vidros nas portas e janelas dificultando a circulação do ar, não ter árvores, pé de fruta ou sequer um canto verde em casa não tem nada de cristão. Tem muito de burrice.

Cristão compra casa feita por empresas que destroem a natureza e exploram empregados? É cristão – mesmo sendo bispo – sujeito que em vez de se relacionar com todo mundo, inclusive com gente difícil se isola em condomínio fechado porque não acredita que o amor vence o ódio, que cristão é sal da terra e não se coloca luz debaixo da mesa?  “Teses da USP já evidenciaram que, ao mesmo tempo em que cresceram os condomínios fechados a violência também cresceu. A segregação, tecnicamente, aumenta a violência”. (José Armênio de Brito Cruz, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil. Folha 04.06.12).

Domingo é dia de curtir a família, passear, conversar com vizinhos, ir à igreja para se encontrar com os irmãos e agradecer ao Senhor por tantos benefícios. Se não for caso de muita necessidade, cristão não vai a supermercado ou shopping no domingo, dia que – exceto serviços essenciais – nada deveria funcionar, a fim de que patrões e empregados descansem e o planeta tome fôlego da voragem humana.

O que tem de cristão sujeito que elege para prefeito cara que governa para ricos, tem os vereadores nas mãos para fazer o que quer, e, que em vez de transporte coletivo, suprime o verde e estreita calçadas para dar vazão a automóveis porque dão impressão de progresso e agrada gente que, se pudesse entraria com carro até dentro da padaria?

Dá para ser cristão e comer em restaurantes que servem 30, 40 pratos diferentes enquanto muita gente mal tem arroz com feijão; fazer churrasco todo fim de semana mesmo sabendo da destruição que o gado faz na natureza? É cristão sicrano que vendo o lixo tomar mares e lixões imensos ameaçarem cidades, e mesmo assim não recicla seus rejeitos; em vez de consertar compra novo e consome por impulso?

Dirão que assim fica difícil ser cristão. Será? Cristão sabe que está de passagem. Tudo pertence aos que virão, e é bom deixar melhor que estava. Por isso, viaja leve curtindo a maravilha da criação. Se Deus cuida até dos pardais, quanto mais da gente. Quer se ver livre para amar e ser amado; correr riscos e se aventurar. Difícil deve ser viver como o mundo quer. Ou é a toa que os hospitais estão cheios, há farmácias por todo canto, a depressão corre solta e tem gente se dopando até para dormir.

Eu, hein?

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