Esquema

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EsquemaDecepcionado com os políticos? Há quanto tempo ouvimos falar em propina para ganhar concorrências, porcentagem das obras para o partido, etc. e nunca demos  bola – por não ter como provar, por medo de se envolver e até mesmo por achar normal? O que parecia gorjeta virou norma. Apontar políticos e empresas somente é cômodo. Quem de nós não viu, aqui em Piracicaba mesmo, campanhas milionárias para vereador, prefeito, deputado? Vi candidatos a vereador esbanjando material de primeira e pagando dezenas de cabos eleitorais. Teve candidato a prefeito que formou sua base aliada já na campanha. E ganharam estourado. Donde veio grana? Empresas ajudaram. Em troca de quê? Quem votou neles não endossou o esquema?

O mesmo se passa nas esferas federal e estadual. Para um candidato se tornar conhecido precisa fazer campanha, e do jeito que é feita custa dinheiro. Em geral, ganha quem mais gastou, que nunca é o melhor. Até porque, quem tem brio não aceita gastar tanto, e empreendedor justo pode até ficar bem de vida, mas rico nunca. Logo, quem tem muito dinheiro fraudou, e se coloca na política para manter seus privilégios, defender seus interesses e os de sua laia. Só ver as gangues que dominam o Congresso Nacional. Portanto, de um jeito ou de outro, o grosso da grana de campanha vem do setor privado, que tira do público. Com a conivência de políticos que ajudaram eleger, empresas de olho em obras públicas, formam cartéis; depois superfaturam, fazem aditamentos, chantageiam, dão propinas e por aí vão. Pior ainda quando fazem serviço de porco com custo do de primeira. Observem muitos prédios públicos de agora. São feios, a maioria. Cheios de infiltrações, portas empenadas, janelas emperradas, tinta descascando, banheiros insalubres, bolor, goteiras, etc. Uma vergonha.

Não bastasse, quem planeja equipamentos públicos em geral é pessoal de gabinete, mormente engenheiros que nunca sentiram uma unidade pública em funcionamento. Atendem interesses e não necessidades. Sabem nada da rotina de um PSF, UPA, CRAS, UBS, etc. Depois de prontas não são funcionais. Espaço apertado, porta no lugar errado, falta pia ali, tomada aqui; uma gambiarra pra cá, outra pra lá e em pouco tempo o prédio vira um barraco. Além de desconforto para usuários e servidores, desmerece o serviço público. Porém, uma reforminha aqui, outra ali, além de visibilidade política alguma coisa sempre sobra para o caixa de campanha. É o esquema.

Se, quem não aceita o esquema não consegue entrar, é necessário mudá-lo, senão só teremos políticos pilantras. Prender políticos corruptos é preciso, contudo, nada vai adiantar se o desenho continuar o mesmo. Muita gente bem intencionada quer servir o país. Mas, num sistema onde sem dinheiro não se elege, como fazer?

As redes de televisão, por exemplo, chegam a todas as casas. Pertencem ao povo brasileiro e não aos Marinho, Saads, Silvio Santos, etc. Durante o tempo das campanhas deveriam ser requisitadas para que o país seja posto em debate, políticas públicas sejam avaliadas e novos candidatos apresentem propostas em igualdade de condições. É certo que num tempo importante como o da campanha eleitoral emissora continuem com sua rotina atendendo interesses de algumas famílias que tomaram posse do que pertence ao povo? Tantos problemas a discutir e canais exibindo programas descartáveis e novelas? Quando promovem algum debate, além de engessados e exibidos tarde da noite, visam audiência para faturar mais. O uso dos rádios e TVs durante as campanhas eleitorais poderia baratear e democratizar enormemente o processo, além de facilitar a vida do cidadão que quer votar bem, mas não tem como conhecer prováveis bons candidatos.

Talvez assim, os jovens tenham chance e o Brasil possa varrer da vida pública a linhagem de parasitas e a casta de sanguessugas que tomou posse das instituições e não deixa o Brasil voar alto.

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