“Hoje contido, amanhã contigo”

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Bandido-bom-770x470Referindo-se a presos, a frase que intitula o texto é de Domingos Dutra, 60 anos, político, ex-PT, hoje PCdoB. Autor de “O Camaleão”, livro que fala dos escândalos da família Sarney. Formado em Direito pela Universidade Federal do Maranhão, ele se refere ao fato de que quando um infrator é preso, a gente festeja. Porém, o hoje detido, amanhã deverá estar de volta, pois a pena vence, não temos prisão perpétua e muito menos pena de morte, pelo menos no papel, pois a nação brasileira acredita que deve ser dada ao cidadão que erra a chance de se recuperar. Isso é bom, é direito.

No entanto, a maioria do povo brasileiro é adepto da idéia de que bandido bom é bandido morto. Tanto que aplaude quando a polícia mata. Só no ano de 2009, a polícia brasileira matou nove pessoas por dia. É polícia isso ou grupo de extermínio? O pateta que apóia uma matança dessas não sabe que cada homicídio cometido – pelo Estado mais ainda – só faz por aumentar a dívida social? E a conta cresceu com os cerca de 130 assassinatos ocorridos nas rebeliões de janeiro passado em presídios brasileiros, cuja crueldade chocou o mundo. Estamos pagando até hoje o massacre de 111 presos no Carandiru em 1992 praticado pelas forças de segurança paulista. E até que se faça justiça – ainda não feita –continuaremos pagando. Por acaso, cento e onze ‘bandidos’ a menos fez a violência cair? Só cresceu. O PCC surgiu daí, a fim de defender detentos e familiares da truculência do Estado. Vivemos um clima de insegurança e medo, sem contar os milhares de vidas ceifadas em assaltos, sequestros, etc.

Portanto, a turma que quer vingança em vez de justiça tem mentalidade tanto ou até mais nociva que quem está preso. Cara que pensa que o problema da violência se resolve com mais fúria ainda se acha acima do mal. Não lhe passa pela idéia que um dia poderá cometer algum crime, ou alguém de sua família, como já aconteceu com pessoas até bem conceituadas. Bem e mal moram dentro da gente. Cresce aquele que melhor alimentarmos. Imaginem como é o interior de quem prega violência.

Voltando ao início, está provado que prender em massa como se faz no Brasil só aumenta o problema da violência. “Toda a literatura em criminologia, baseada em fatos e não em crenças, aponta que o encarceramento tem efeito limitado na diminuição da criminalidade. Mas esse pensamento é alimentado em faculdades de direito, onde os alunos nem sequer visitam presídios. No Brasil, vi juízes que passaram a vida inteira sem nunca pisar numa penitenciária. Existe uma separação muito grande entre a teoria e a prática do direito que torna muito fácil dizer ‘vamos ser duros com a criminalidade’.” (Fiona Macaulay, pesquisados da Anistia Internacional Folha 08.01.17).

O Estado brasileiro deixou que apodrecesse o sistema prisional. Virou uma fábrica de loucos, de doentes, de marginais e laboratório do crime. Do ladrão de salame ao vendedor de drogas; o sociopata, o matador em série, todo mundo vai preso. Um monte inclusive de gente inocente e um monte que sequer foi julgado. Nosso oneroso Judiciário acabou virando parte do problema não da solução. Quanto mais incompetente o juiz, mais prende. Existem formas mais eficazes de recuperação. Porém, grosso modo, graduados do Judiciário são oriundos da aristocracia que domina o Brasil desde os tempos da escravidão. Sabem nada e nem querem saber o que se passa na senzala, muito menos da injustiça que grassa a vida da nação.

“Acho que vão matar gente aqui dentro. Tá tudo estranho. Se eu for, amo vocês todos. (…) Tô achando que sou eu. Se eu não te mandar mais mensagens, você não manda mais não, ta bom? Tô com medo, amor”. (Abel Paulino de Souza, 25 anos, mensagem que enviou à sua mulher antes de ser morto no dia 05.01.17 na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista – RR Ele foi decapitado. Morreu sem ser ter sido condenado pelo Judiciário. Folha 13.01.17).

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