Incongruências dominicais

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  Ida a Águas de São Pedro no domingo.

   Logo na saída de Piracicaba, passando pela pedreira do Bongue vemos que a mesma está sendo (e já faz um tempo) vorazmente comida pelas beiradas. Parece até que estão fazendo uma estrada ali agora, encima das pedras. Recentemente, segundo os jornais, blocos rolaram, perigosamente, para a via. Deixa-nos pasmos a situação.

   Há anos, um geólogo denunciou a destruição deste patrimônio de nossa cidade. Pedreira histórica aquela! Saiu nos jornais; o Ministério Público foi envolvido até onde me recordo, pois a pedreira está inativa há longo período, ou deveria estar. A destruição parou, mas só temporariamente. Retomam constantemente intervenções na mesma, e à socapa; roem tudo. Sempre assim. Muito desta pedreira já foi destruído.

    Mais adiante chegando à Ártemis, observa-se um trevo ruim na estrada, acesso medíocre para o bairro, via esta para uso comum da população e que adentra, de repente, uma superestrada. Lembra-nos algo hollywoodiano até. Palmeiras ladeando uma via larguíssima, bonita, bom asfaltamento com guias novas e bem feitas. Isso para chegar-se onde? Não ao bairro de Ártemis em si, mas exclusivamente a um condomínio de luxo (conquanto possa haver outra coisa municipal, vizinha , que nunca justificaria a estrada)  de muros altos, muito bem erigidos e portão imponente. Mas não é estrada particular do condomínio esta. Não terá sido construída pelos empreendedores e sim pelo poder público (com dinheiro de nossos impostos). Então, pasmem de novo! e de novo, pois é a cidade que elege e reelege esses políticos que cá estão e fazem sempre o mesmo. Não dá pra compreender…

    No mais, é melhor nem citarmos a secura da região. Uma tristeza, sem chuva e com calor de trinta e três graus (no inverno!). A sensação dos ultravioletas é corrosiva, dolorosa, maléfica, por outro lado.

   Águas, uma cidade que amo, virou quase um buraco feio. Está cheia de tapumes, de obras, demolições. Horrorosa. Calor imenso ali; tudo muito seco.  Poderia e deveria ser muito bem cuidada. Canteiros e ajardinamento primorosos, com irrigações; calçadas boas, obras bem planejadas e apenas eventuais. Aspersores de água espalhados pela avenida central, no calor indomável. Tão pequena a cidade! E fácil deixá-la linda, mas desinteressados seus administradores…

   Coisas áridas e ruins pra um único domingo, concordo, mas sempre pode haver eventos até piores. O bom é, apesar de tudo, ter sobrevivido a este dia, esperando sempre vermos dias (ou locais, na verdade) bem melhores que esses nossos por aqui.

1 comentário

  1. Antonio Carlos Danelon - Totó em 16/09/2014 às 10:58

    Concordo Eloah. Aliás, li, no JP que a Rua do Porto recebe todo ano 1,1 milhão de turistas. Pelo menos 70% dos consumidores são de fora. Administrador público inteligente – que não é nosso caso – sabe que a vocação de Piracicaba é o turismo. Temos belezas naturais singulares e serviços de boa qualidade. Aquele espaço é único na região e deveria ter virado um grande parque integrando também a enigmática e exuberante Pedreira do Bongue, que – como sugerido por geólogos – poderia ter sido transformada num geoparque ou geossitio, visto ser um lugar interessante para turismo e estudos geológicos dado à singularidade de sua formação e seu valor paleontológico. Porém, como ‘donos’ da cidade, sem consultar ninguém decidiram violar o lugar duplicando a avenida que passava por dentro de um fantástico túnel de árvores. Isso para beneficiar condomínios chiques e ‘ligar a Região Oeste à Leste e Sul’ favorecendo o fluxo de automóveis e empreendimentos imobiliários. O lugar, que antes atraia grande número de piracicabanos nas tardes de domingo, ficou perigoso, deserto e melancólico. E pra acabar de vez com o sonho, o IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas classificou – entre outras – a Pedreira como área de risco. “É muito alta a chance de acontecer desprendimento das rochas, mesmo sem chuva. Como existem moradias no alto das pedras e passam muitos veículos na avenida, o grau de risco é maior. Podem acontecer muitas mortes em um eventual deslizamento”. (Marcelo Fischer Gramani, coordenador do projeto e pesquisador do Laboratório de Riscos Ambientais). (JP 19.03.14). “Não parece, mas o turismo dá muito emprego, não só grandes empresas. O pequeno negócio é o que mais emprega no país…” (Gabriel Ferrato, prefeito. JP 12.04.14). Saber eles sabem, mas foram buscar indústria do outro lado do mundo. Será porque segundo Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia USP “Pequenos empresários não têm a mínima possibilidade de apoiar campanhas eleitorais…?”. (Folha 20.01.12).

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