Inspirações de abril

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unnamed  O que fazer agora, se já passou da hora? Prefiro a dor da ausência ao dogma da ciência. Fique em minha alma a sugestão da calma. O que mais desejo? De Deus, o Seu beijo.

Assim desejo saudar o leitor nesta crônica de abril. Para encantar os corações. Para abraçar Marias Eugênias, Lucinhas e tantos queridos que me enviam e-mails amorosos e gentis.

Na crônica de abril derramo meu coração febril. Aqui no condomínio de casas onde moro, saio lá fora na rua e espio o céu noturno. As estrelas profundas tremeluzem serenas. Um vento suave percorre o casario e eu rezo. Rezo pela Rua Um, rezo pela Rua Dois. São apenas duas ruas, no recanto de conto-de-fadas onde moro. Rezo pela paz!

Abril é uma casa aconchegante. Onde você mora? Moro em abril e em seus cômodos ensolarados, em suas brisas sussurrantes. Abril abre meu peito, rompe minha alma. Todo ano é assim, o cotidiano da espera, um verso pulsando em cada momento, o instante do sonho que julgamos aprisionar nas retinas e tornar eterno.

Tenho certeza quase absoluta de que cada coração humano cultiva esta beleza íntima. Algo para se acarinhar e relembrar nas horas doces da memória. Parece que abril cuida de restaurar e reavivar estas lembranças, como um azul que se intensifica.

Abril, azul, abril. Vamos lá. Está lá, em algum lugar, o que buscamos. Seja o que foi pedido hoje de manhã, de joelhos, debruçado sobre a cama, com as mãos cobrindo o rosto; seja o que se vem sonhando a cada dia. Encontrei um verso bonito, de uma nova canção: “o que não foi possível/ é possível que ainda esteja lá”.

Belo e intenso é abril em suas entranhas. Beleza que não se esgota e se renova anualmente. A cada ano, vejo um abril ainda mais nítido. Esta nitidez que é lúcida e abrangente. Mudou abril ou mudei eu?

Ah, meu Deus! Que portentoso encanto vem junto com este outonal sentido? O que me causa? Talvez, a sublime esperança da paz em todas as suas instâncias, como se fosse um prodígio digno da nossa fé. Um frêmito percorre o corpo, toda vez que a esperança acena, promissora. É preciso reagir com algum entusiasmo, porque viver é um acontecimento raro.

Como sempre digo a uma querida amiga de infância, haveria tanto a dizer! E por que não o dizemos? Porque nem todas as palavras devem ser ditas ou escritas. Cada um conhece muito bem os perigos e os limites dos vocábulos. Há um mundo à parte que é apenas pensado, sentido, refletido e não dito. Fique apenas no pensamento esta reflexão que torna possível conviver.

Mas por causa de abril, algumas palavras escapam de nós e são fonemas quase intactos. Tento preservar as mais preciosas, para que não sejam exibidas de modo despudorado. Não. Cubram-se, queridas, resguardem-se. Haverá o momento certo de aparecer.

Talvez, num divinal impulso, alguém possa dizer ou escrever “eu te amo”. E se o dirigir a alguém que verdadeira ama, terá cumprido sua missão de afeto. Ainda existem certas doçuras sobre a terra. O emocionante amor, sim, o emocionante amor.

Cantemos, apesar de tudo. Cantemos, é abril.

 

1 comentário

  1. Valdir em 28/04/2015 às 16:54

    # Cantemos, apesar de tudo. Cantemos, é abril.

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