Olinda nada de mais

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       Importante, quando podemos, é conhecermos nosso país e gastarmos dentro dele nosso dinheiro, enquanto turistas. Mais do que justo. Daí, durante a estada em João Pessoa que ainda é uma capital bonita e bem bacana, ter feito eu tudo para ir a Olinda, cidade que nunca visitara, apontada como sendo bela também.

      Sabendo que o trânsito de Recife é difícil (aliás, digam-me em qual capital brasileira não o é; e agora então, recebem a montadora Fiat por lá…), contratamos um taxista joãopessoense que, apesar de não saber bem as entradas para Olinda, nem ter um GPS com bom funcionamento sem nos alertar antecipadamente sobre isso, era calmo, simpático e dirigiu com cautela.

     A “grande Recife”, com cidades todas grudadas umas às outras, como Igarassu e uma série de outros municípios espraiados ao longo da pista, está entre os lugares mais feios (e eles são muitos!) que deus não colocou no Brasil de jeito nenhum; mas conseguimos, certamente, fabricá-los. E veja-se que Recife é a metrópole mais rica e a de maior PIB, do nordeste. Daí se percebe que o PIB é termômetro relativo para medir-se qualidade de vida, estética local ou tranquilidade. A Paraíba é bem diferente, até onde me é dado conhecê-la.

      Diz-se igualmente que, nos últimos dez anos, Recife transformou-se numa outra cidade, muito progressista e organizada. Então me pergunto como seriam aquelas periferias antes… Talvez só favelas e barracos mesmo. Agora ainda tudo é horroroso, mas nota-se uma azáfama de serviços, um vai e vem de gente e de veículos, de trabalho, muitas construções tortas e precárias, dissonantes sim, sujas é verdade, grudadas entre si, mas correndo atrás do “desenvolvimento”; porém um lugar onde calçadas, árvores, plantas e planejamento urbanístico seriam palavrões.

     Rodando por essa confusão chegamos a Olinda.

    O clima úmido e a vegetação encantadora causaram bem-estar, felicidade inevitável em pessoas quase refugiadas do clima nas quais nós estamos nos tornando, vindas da secura calorenta do sudeste, onde o sonho atual de consumo é o doce ruído da chuva e umidade do ar de 80%!

   Olinda tem seu centro histórico conservado. Não havia crianças abandonadas nas ruas e surgiram poucos pedintes, bem como havia número pequeno de turistas e pouca gente nas ladeiras. Vi um cão em deplorável estado de saúde e fiquei cheia de pena. Conversei com pessoas ao redor , expliquei, orientei, implorei cuidados ao cão.

      O guia turístico foi simpático e atencioso, mas um aldrabão na hora de cobrar; pois nada quis combinar antes e depois se mostrou um esfolador nato. E… teve o incidente do museu de arte sacra. Íamos nele adentrar quando a moça, uma guarda civil creio, aponta-nos um aviso no balcão que não se entrava ali nem com bolsas nem com pacotes; mas armários não havia, para guardar-se qualquer coisa. Deixarmos os pertences ali, nas mãos de um pequeno grupo uniformizado e unido, seria burrice demasiada. Deixe-se a arte sacra pra lá, dispensável; que fique a grana pra ajudar o museu! Meia volta, volver! Simbora.

    Missão cumprida. Vimos Olinda. Não foi mau é certo, mas parti com a certeza de que viveria muito bem sem nunca visitá-la, afinal. Nota quatro e meio.

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