Pobre mundo rico

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unnamedÉ lamentável, mas faltam aos nossos tempos os consistentes valores que dão suporte ao desenvolvimento de uma sociedade justa e humana, de bases fortes e dignas. A prática generalizada da corrupção é um exemplo maligno. Hoje, impera a lei da esperteza e escasseiam-se os elementos e conceitos formadores da boa educação. Há um franco relaxamento em toda parte e esta frouxidão é a tônica que vai se tornando regra de vida.

As sociedades modernas se pautam pelo hedonismo e pela satisfação dos prazeres, na corrida consumista, no desejo de riqueza e poder. Todos querem ter o que é de última geração, sobretudo o celular mais poderoso. Seja para usar, seja para ostentar. A ordem é ter.

Educadores e psicólogos chamam a atenção dos pais e responsáveis para serem mais rigorosos e enérgicos com seus filhos, uma vez que a tecnologia fantástica chegou cedo demais às mãos dos pequenos e, mais uma vez, é tarefa dos pais colocar limites ao uso destes aparelhos. Alerta-se para o excessivo número de horas que as crianças passam diante da televisão ou conectadas, e que poderiam ser aproveitadas com leituras, lazer criativo ou brincadeiras adequadas à idade.

Guardei este pensamento do jornalista Carlos Alberto Di Franco: “Hoje, graças ao impacto da TV, qualquer criança sabe mais sobre sexo, violência e aberrações do que qualquer adulto de um passado não tão remoto. Não é preciso ser psicólogo para que se possa prever as distorções afetivas, psíquicas e emocionais dessa perversa iniciação precoce”.

Em nosso mundo rico em lazer e entretenimento, encontramos inúmeras aberrações deformadoras do caráter e da vontade. Todo tipo de facilidade é apresentado às pessoas, para que não precisem mais pensar ou raciocinar.  Encontramos à nossa volta um volume de novidades e informações, onde muitos de nossos interesses são programados de acordo com a mídia avassaladora. Neste universo misto, vários deuses são cultuados no intenso fervor das fantasias. A beleza a qualquer custo, o poder, o dinheiro, o luxo, a vida de ostentação estão entre os novos “valores” aos quais se presta culto.

Daí a necessidade do chamado “espírito crítico”, a importância de saber pensar pela própria cabeça e não se deixar iludir por aparências enganosas. Trata-se da capacidade de refletir, raciocinar e questionar o que nos é apresentado de forma tão sedutora. Ninguém se engane com a fantasia do mundo virtual, do cinema ou da tevê. É preciso ter os pés no chão e considerar o valor do mundo real. É na realidade do dia-a-dia que vivemos e construímos nossa possível felicidade.

Pobre mundo rico, fabricante dos mais sofisticados produtos e máquinas, dos mais fabulosos meios de lazer e diversão. Sim, tiramos o chapéu para ele. Mas encontramos nele disparidades e contradições gritantes. São tantos os contrastes, que acabamos invertendo a ordem natural da vida, para vivermos escondidos, reclusos e cercados por um absurdo aparato que nos dá a ilusão de segurança.

 

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