As loucas de amor

Se, ao longo da vida bem vivida, de algo me convenci, é de ser amorável a natureza humana. Mergulhados em tantos conflitos, verdadeiramente martirizados por ódios e horrores, ficaram-nos toldados almas e corações. Não há mais – em relação à vida e ao mundo – o rosa e o azul. Tudo parece ser nublado, escuro, descolorido. E é, também, como se inexistisse o amor.

“Puro e ledo engano” – como se dizia e se escrevia antes. Fomos e continuamos sendo vítimas de coações morais e religiosas terríveis, essas tais que inventaram ser, vida, apenas uma etapa para se ir a céus ou infernos. Ou a purgatórios. Afinal de contas: nascer é uma bênção, uma graça ou um castigo? A vida ensina-me, cada vez mais, que nascer é dom gratuito, privilégio. Seremos tolos se não crermos nisso. Mas é questão de cada um…

Ficamos desejando e almejando o absoluto, o infinito, o ilimitado. E não mais percebemos as gotas de mel que, todos os dias, estão-nos próximas dos lábios. Mas o absoluto existe. Pelo menos, um fiapo dele. E é uma loucura, algo irracional, superior a todas as leis, ordens e regras formuladas pela razão. Nada há que o explique. Nada o define. Prosa e verso, música não sabem e nem podem interpretá-lo ou descrevê-lo.

Refiro-me ao amor de mãe, ao absoluto do amor materno. A humanidade, penso eu, mantém viva suas esperanças por ser movida por uma loucura inenarrável. Mantida, robustecida, sustentada, alavancada por essas mulheres –  loucas de amor! –  cujos nomes são simples e abençoados: mães. Uma, apenas uma, uma só mãe traz, em si, o divino no humano.

Ah! pobres de nós, órfãos de mãe, desamparados e sós na multidão…

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