Mudar para ficar tudo igual

Tomei conhecimento da estupidez e da crueldade humanas ainda aos meus tenros cinco anos de idade. Foi em 9 de agosto de 1945. A bomba atômica sobre Nagazaki – três dias após a destruição de Hiroshima – apavorou a criança que despertava para a vida querendo encontrar uma prosa em poesia. Depois, em 1950, a Guerra da Coreia. E, depois, a Guerra Fria. Em 1954, o suicídio de Getúlio Vargas. A tentativa de impedir a posse de Juscelino. A renúncia de Jânio Quadros. A conturbada posse de João Goulart. O pânico diante de uma provável e possível Terceira Guerra Mundial, tendo Cuba e os mísseis russos como atores principais. O golpe militar de 1964. Os terríveis anos da ditadura militar. A confusa e frágil redemocratização. A deterioração do país por Sarney. A queda de Fernando Collor. Uma nova promessa com Fernando Henrique e a sua derrocada. A vitória espetacular de Lula e o também espetacular naufrágio dele e do PT. E um novo e inacreditável mar de lama.

Mudanças e mudanças, despertando esperanças que, todas elas, se tornaram vãs. Vi e vivi tudo isso, em 72 dos meus já próximos 77 anos. A inevitável queda de Michel Temer – ator de outra “opera buffa” – anuncia novas esperanças. Também vãs. E apelos a novos Pais da Pátria. Fernando Henrique? Nelson Jobim? A dobradinha FHC/Jobim? Ora, tenho direito ao desânimo e ao cansaço.

Não me há, pois, como deixar de refletir a respeito da sabedoria francesa: “plus ça change plus c’est la même chose” – quanto mais muda, mais é a mesma coisa. E, também, no Conde de Lampedusa, em “O Leopardo”: “algo deve mudar para continuar tudo igual”. Seria um destino? Sendo-o, seria possível mudá-lo?

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