O aviãozinho do circo

Tenho dúvidas quando ouço  dizerem que falta, ao povo, educação. Pois, ainda agora, pergunto-me: como haver educação sem, antes, existir civilidade? E, por civilidade, entenda-se aquele mínimo respeito que nos devemos uns aos outros, civilidade como boas maneiras, como sociedade polida. Polir é refinar, civilizar-se. Lembremo-nos de que ambas as palavras – polir e civilizar-se – têm radicais com o mesmo significado, originando-se de “polis” (grego) e de “cives” (romano, latim). “Polis” da qual derivam as palavras política, polir, polido, polimento, policiar e outras, referindo-se à cidade, ao Estado. Da mesma forma, “cives”, civilitatis, civilizatio, civis – civilidade, civilização, cidadão, cidade,  Estado. .

Não se consegue polir o animal selvagem se, antes, não for, ele, domado, domesticado. E domar e domesticar significam torná-lo apto a viver “em casa”. Só depois e então, ele poderá ser polido, refinado pela educação. Educar é conduzir. O Brasil jamais poderá ser educado se, antes, não for civilizado. E, a cada dia que se vai, mais se torna claro ser preciso domesticar, domar o ser humano que se brutaliza assustadoramente. Humanizar o homem – quem diria tal absurdo? Pois o absurdo acontece quando se perde ou não se tem senso. Uma sociedade sem senso, eis, pois,  em que lá nos vamos transformando.

Por que a  amarga reflexão? Apenas por causa da ousadia com que esse desrespeitoso aviãozinho do circo sobrevoa, impunemente, a cidade de Piracicaba.  Nem mais ao ar, ao espaço temos direito, neles buscando um mínimo de serenidade? Por que o silêncio das multidões diante do estardalhaço que faz o avião sobre nós? E as autoridades, estão surdas ou já foram contaminadas pela indiferença que nos torna submissos a todos os abusos? Ou sou eu, cujos ouvidos foram educados por um passado de civilidade e de polimento? Nada mais sei.

 

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