Maçons

MaçonsÀ procura de algo para ler, encontrei, nas estantes de minha mulher, um anuário – como que livro de anotações, calendário – com o título “O Livro dos Dias”, na Tradição Maçônica. Ora, não sou maçom. Era-o meu pai, um homem devotado às causas e à filosofia da Maçonaria. Cresci, assim, num ambiente de livres pensadores, de mistérios que, então, envolviam a chamada “Loja”. E, aos meus seis, sete anos – escrevi sobre essa aventura que me marcou fundo – tornei-me “lowton”, filho de maçom como que um batizado. Nunca me esqueci daquela cerimônia, homens de avental, espadas que se cruzavam no ar e, sob as quais, os meninos passavam. Foi a primeira vez que eu soube da presença da mulher na Maçonaria, pelo menos em cerimônias especiais.

Na escola, tanto padres como freiras – principais educadores de escolas particulares naqueles tempos – condenavam a Maçonaria e os maçons como se fossem demônios a ser combatidos e destruídos. Eram homens e uma instituição “condenados ao fogo dos infernos”, excomungados pela Igreja Católica. Entendi, logo de início, haver alguma coisa de profundamente errado naquela avaliação de padres e freiras. E meu raciocínio infantil, depois de adolescente, era simples mas creio que correto. Eu apenas me dizia que se meu pai estava na Maçonaria ela não poderia ser má, pois meu pai era bom; ela não poderia ser indigna, pois meu pai era um homem digno, e morreu assim.

Se houve algo natural e harmonioso que entendi logo na meninice, foi essa relação entre fé e Maçonaria. Meu pai me dizia que, para ser maçom, um dos principais requisitos era “acreditar em Deus”. E aquela palavra mágica, “Arquiteto do Universo”, se tornou, para mim, a mais perfeita definição de Deus, a mais sábia, mesmo para os que são contrários à visão abraâmica de religião, cristãos, judeus, muçulmanos. Um “Arquiteto do Universo” explica tudo, incluindo Darwin e os criacionistas. Um “Arquiteto do Universo” pensa, elabora, cria e, então, a obra irá cumprir seu destino “per saecula saeculorum”.

Mas não é sobre isso que estou refletindo, a partir do livro que encontrei na biblioteca de minha mulher. Há, em cada dia do ano, referência a alguém ou a fatos que merecem a atenção da Maçonaria. E o que se faz espantoso é perceber, página por página, o rol de personalidades mundiais que pertenceram aos quadros maçônicos, que eram líderes não apenas na instituição mas no seu tempo e no mundo. Revolução francesa? Lá estão os maçons. Independência dos Estados Unidos? Lá estão eles. E estão, também, na independência do Brasil, na libertação dos escravos, na proclamação e na manutenção da República brasileira. E são lideranças mundiais. E em todas as atividades.

Seria impossível, numa crônica de poucas linhas, citar todos os nomes que, sem consegui parar e indo pela madrugada, li no “O Livro dos Dias”. E é óbvio que sempre haverá injustiça em citar alguns e não outros. Não há, porém, outra solução. Fico a pensar nos brasileiros D.Pedro I, o Barão e o Visconde de Rio Branco, Rui Barbosa, João Caetano, Prudente de Moraes, Campos Salles, Nilo Peçanha, Duque de Caxias, Marechal Deodoro, Saldanha Marinho, Hermes da Fonseca, Quintino Bocaiúva, Carlos Gomes, Regente Padre Feijó, José do Patrocínio, Hypolito da Costa, Victor Brecheret, Joaquim Nabuco, Frei Caneca e milhares de outros. E, no mundo, personalidades como Voltaire, Mozart, Walter Scott, George Washington, Laplace, Kipling,Frederico da Prússia, José Marti, Simon Bolívar, Garibaldi, Louis Armstrong, Sibelius, Liszt, Cherubini, Franklin D.Roosevelt, e um sem fim de tantos outros.

A grande realidade é que esses homens e muitos e muitos outros apenas mostram que a Maçonaria esteve e está presente em quantos movimentos de transformações sociais existiram, e os que estão por vir. Nada mais óbvio, portanto, do que haver quem se incomode com isso. De minha parte, apenas um observador de fora, fico admirando a riqueza do ritualismo e do simbolismo maçônicos, como que um mistério a garantir muito de uma forma de sacralidade a tudo o que os tempos de oportunismo estão estragando. Bom dia.

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