Dilma, fobia e crucifixo.

Não entendo mais que tipo de jornalismo se está fazendo por aí, em especial na ainda chamada “grande imprensa” que, na realidade, se vai apequenando cada vez mais. Mas o problema é meu, que pertenço à velha escola de jornalismo de grandes causas, de serviços sérios que o equiparavam a um verdadeiro sacerdócio. Jornalismo não era comércio, mas sacerdócio. Logo, o erro é meu que não percebi a deterioração de tudo, a vulgarização do que era nobre, o assassínio de referenciais.

O respeito ao leitor e à comunidade é o fulcro vital do jornalismo. Sempre foi assim, antes destas duas décadas de farisaísmo e de oportunismos insuportáveis. Antes de serem empresas, jornais eram verdadeiras escolas de idealismo, de prestação de serviços ao povo, de crença em princípios pétreos. A perda de respeito, insinuante em seu início e galopante nos últimos tempos, atingiu o insuportável nível de, por interesses não revelados, se desrespeitar também a inteligência do leitor. Jornais há que pensam sejam, os leitores, massa de idiotas que pode ser infantilizada, manipulada, enganada.

Ora, o Brasil entrou numa fase admirável, mas ainda frágil, de desenvolvimento que entusiasma o mundo. Não somos mais o país do futuro, mas o do presente, uma das mais respeitáveis nações no concerto universal. O ódio ao ex-presidente Lula – que se assemelha muito aos ódios e ranços que a direita radical dos EUA nutre por Barack Obama – tentou criar as mais repulsivas dificuldades para este país viver os novos tempos. Não interessaram conquistas, etapas vencidas, mas, sim, o que aconteceu de ruim ou de condenável, como se a política fosse um céu límpido e sem manchas. Não mataram Lula porque este foi maior do que a mediocridade generalizada. E, agora, ainda que timidamente, querem repetir a indecência em relação à presidenta Dilma.

A função da imprensa é, sim, a da oposição vigilante e permanente. Mas oposição não significa forjar fatos novos, tentar encontrar pelos em ovos ou chifre em cabeça de cavalo. Oposição não é nem pode ser fobia, que é doença. E, pelo visto, começa a criar-se um verdadeiro movimento Dilmafóbico, tentando minar o trabalho de uma mulher que já se revela líder em seus primeiros dias, concentrada no trabalho, sem holofotes, distante das fofocas jornalísticas. Redações de jornais há que mais se parecem a botequins de boatos ou a botecos de jovens universitários, onde cada um quer inventar mais do que o outro.

Veja-se, agora, o destaque que se deu – maldoso e mentiroso – ao simples fato de, no gabinete presidencial de Dilma Roussef, não mais estar o crucifixo que ficou pendurado na parede ao tempo de Lula. Já se tentou jogar Dilma contra a Igreja e religiosos, a ponto de Mônica Serra, mulher de José novamente derrotado, ter falado que Dilma era “matadora de criancinhas”. Agora, tenta-se, com a ausência do crucifixo, insinuar que a presidenta Dilma está contra valores cristãos,muito embora muitos setores da imprensa estejam em luta para se tirar símbolos religiosos de prédios e repartições públicas.

Jornalistas que fizeram as insinuações e destilaram invenciocines e maldades deveriam, agora, envergonhar-se. Pois o gabinete da Presidenta Dilma nem sequer lhes deu a mínima importância, apenas informando, por twitter, que “o crucifixo não está mais lá porque era objeto pessoal de Lula e, portanto, foi levado embora junto a presentes e bens que pertenciam, por lei, ao ex-presidente.” Esse movimento Dilmafóbico tem outro aspecto preocupante: pode significar o enlouquecimento suicida de alguns veículos de comunicação. Não creio que a má imprensa tenha qualquer utilidade à democracia. Pelo contrário, a má informação é mais deletéria do que nenhuma informação. Bom dia.

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