Reflexões de Natal – 1 (Árvore e presépio)

picture (6)Presépios de Natal, cadê? Árvores, luzes, bolas, vitrinas, papais Noéis, esses abundam e multiplicam-se. Mas presépios, cadê?

No mundo ocidental, a mais bela das histórias, a mais mágica e fascinante é exatamente a história do Cristianismo, como que a síntese de todas as outras que povoaram a imaginação da humanidade através dos milênios. Lá está o menino, gerado no ventre e no seio de Virgem, pobrezinho, vindo à luz num estábulo, numa manjedoura para – após breve mas venturosa existência – morrer, ressuscitar e se tornar Rei dos Reis, Filho de Deus, Filho do Homem, o Ungido. Presépio é o mesmo que manjedoura, que estábulo.

A magia do Natal está exatamente na magia da narrativa humana para explicar aquilo que se não explica. Os racionalistas simplórios vêem equações matemáticas, questões aritméticas onde a razão não cabe. A História das Mil e Uma Noites é imortal justamente pelo inexplicável, pelo aparentemente fantasioso, pelo fantástico. E, por fantástico, deveríamos entender o mundo imaginário, criado pela fantasia que, nem por isso mesmo, deixa de ser parte da humanidade. Não somos apenas cérebro, neurônios e razão. Somos sentimento, emoções, sonhos. E precisamos de respostas para aquilo que a razão não entende. Pois, se a razão entender, deixa de ser sonho, da mesma forma como se torna banal e até ridícula a mágica do prestidigitador quando se revelam os truques.

Papai Noel continua, já há mais de meio século, tentando ocupar o lugar do Menino Jesus nessa admirável e comovedora história de Natal, o princípio de tudo, o nascimento, o surgimento, a renovação. A cruel ironia – para não se dizer de profunda tolice – está no fato de a imagem de Papai Noel ser vinculada a presentes. Ora, presentes são augúrios, promessas e, também, dádivas. Quando se presenteia alguém, há um sutil desejo de abundância, de prosperidade, de ventura. Papai Noel é esse presenteador misterioso, como se dar presentes fosse algo acima do poder das pessoas reais em uma noite mágica e sagrada como a de Natal. No entanto, os Reis Magos fazem-no com mais propriedade e mais encantamento, reis que levam, à manjedoura, presentes régios a um menino pobrezinho, desconhecido e anunciado como promessa de paz e redenção ao mundo.

Dar presentes é bom e, por isso, também Papai Noel é bom. Como boa é a Árvore de Natal, com seus penduricalhos, sua imagem de beleza, de majestática anunciação. Faltam, porém presépios. Pois o verdadeiro presente, para os cristão e o mundo ocidental que se diz cristão, foi dado na figura de um menino que será o redentor da humanidade, não importa o que isso signifique, nem a fé que se tenha. O fundamental é tratar-se de uma noite de magias e de rememoração. O presente é a anunciação do novo. Jesus de Nazaré é, para o Ocidente, o novo que se renova pela memória e pela vivência. O equinócio de Inverno, data escolhida para celebrar o nascimento, tem o significado simbólico da forte, da imensa luz.

Não há Natal sem o Menino. Se desaparecem os presépios, o Menino não terá onde nascer, pelo menos no coração dos humildes e dos bons, sejam adultos, sejam crianças. É a história de um sonho. E o mundo pára nessa noite mágica, noite de sonhos e de confraternização. A árvore e o presépio de Natal podem e devem coexistir pacificamente. Mas com a supremacia espiritual deste em relação àquela. Sem o sagrado, Natal é nada. Bom dia.

Deixe uma resposta