Pecados cibernéticos e outros

picture (6)Há poucos anos, reunidos em universidade de Roma, religiosos relacionaram os novos pecados que deverão incorporar-se aos muitos outros já listados pela Igreja Católica. São, também e agora, os “pecados cibernéticos”. E o pobre mortal – mesmo não sabendo o que seja “sofwtware”, “spam”, “download” – tem mais motivos para ser enviado ao inferno.

Morro de pena de uma velhinha, amiga minha, que – deliciando-se com seu computador – se diverte em “baixar música” e enviar-me cópias. Está condenada ao inferno e eu, por receptação, talvez a um bom tempo de purgatório. Alguém enlouqueceu. Ou não tem o que fazer.

Na mesma oportunidade, um Promotor de Justiça protestou contra o oportunismo e a malandragem de alguns pastores que prometem o céu e não o entregam, que garantem milagres a preços módicos e não os realizam. Deus se tornou um bom negócio. E o segredo parece contraditório mas não é: quanto mais diabo houver, quanto mais demônios existirem – mais Deus fica vendável. E rentável. É como inseticida: vende-se mais à medida que aumentam baratas, pulgas, pernilongos.

Desconfio, pois, que, com os tais “pecados cibernéticos”, se aumentem os preços dos milagres, das graças e do perdão. Mesmo porque são pecadores seletos, os tais “classe A”. Pelo menos por enquanto. Pois os pobres de Lula parece que serão financiados para ingressar nesse mundo internáutico com tantos pecados novos. Além de pobrezinhos, ficarão, também, expostos a novas condenações.

De minha parte, já me conformei: estou condenado ao inferno, mísero e permanente pecador. O máximo que posso fazer é lutar muito – talvez fazer alguma penitência ou orações especiais ou usar sal grosso – para conseguir um lugarzinho no purgatório. Pois é, o purgatório, a mais fantástica invenção – em meu infeliz entender – do ser humano. O jeitinho. O quebra galho. O douramento da pílula. A invenção do purgatório conseguiu, penso eu, mudar o destino da humanidade.

Explico-me. Antes, ou se ia para o céu ou se ia para o inferno. A crueldade era absoluta: ou dá ou desce; a carteira ou a vida. Milhões de pessoas devem ter enlouquecido, pobrezinhas. A invenção do purgatório – parece que lá pelo século XI – foi genial, trabalho de diplomata, saída honrosa: “Bem… Se você fizer penitência, se obedecer um pouquinho mais, passa um tempo no purgatório e, depois, vai pro céu.” É um bom negócio: dá-se um jeito, vai-se ao purgatório e, assim, é-se libertado do inferno. Em vez de pena de morte, fica-se um tempo na prisão. É coisa de gênio: ninguém que está no purgatório irá, depois, ao inferno.

Ora, em matéria de reflexões pecaminosas, estou entre os que cometem, diariamente, quase todos os pecados capitais, quase. Homem de verdade – que estiver, por exemplo, diante da Jennifer Lopes ou da Beyoncé – é tentado, tenho certeza, a seis dos sete pecados capitais, pelo menos em pensamento. Logo de saída, os da gula e da luxúria. Em seguida, o da avareza, pois irá querê-las só para si, possessivamente. E, se elas estiverem com namorados, peca-se pela ira, odiando o outro. E tem-se inveja deles. Assim, julgando-se o titular do time, vem o pecado da soberba. Logo, com Jenniffer e Beyoncé um homem só não comete o pecado da preguiça. A menos que seja bobo.

Com tantos pecados visíveis, palpáveis, saborosos, perfumados, sussurrantes – há-se que ser muito burro para ser condenado por pecados cibernéticos. Ou não? Bom dia. (Ilustração: Araken Martins.)

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