“Scena Muda”

Scena MudaPelo visto, a internet passou a ser, também, um dos nichos prediletos da nostalgia. Talvez, pelo fato de os mais idosos terem perdido receios e preconceitos, tornando-se ativos e participantes internautas. Dessa maneira – desculpem-me os mais jovenzinhos – vai-se criando, já aceleradamente, vida inteligente entre os usuários, com algo além de piadas infames, pornografia, besteiras que se acumulam como lixo não recolhido. Na televisão, acontece a mesma coisa, bastando atentar-se para a programação da tevê paga, com outra qualidade. Na aberta, é como se se tivesse direito adquirido para disseminar o mau gosto. E, na paga, há canais realmente admiráveis, com programações, filmes e documentários enriquecedores.

A nostalgia, que se espalha pelo ar, se percebe quase que diariamente. São músicas, fotos, recuperações que correm os espaços e, quase sempre, causam emoção e despertam lembranças. Filmes, por exemplo. De quando em quando, alguém envia montagens deliciosas de se ver e de se sentir. Tenho recebido uma seleção de fotos das antigas atrizes do cinema mundial, com observações interessantes: “elas não usavam botox nem silicone.” E, então, o desfile de mulheres belíssimas, deslumbrantes: Ava Gardner, Ida Lupino, Rita Hayworth, Marilyn Monroe, Hedy Lamar, Grace Kelly, Sophia Loren, Gina Lollobrigida, Brigitte Bardot. Imagino o Lula, que babou com algumas jovens senhoras de Piracicaba, como babaria ao saber que existiram belezas inigualáveis.

Encapar cadernos e livros com fotos de atrizes foi uma das delícias de minha geração na adolescência. Lamentavelmente, os alunos do Dom Bosco ficavam limitados, pois os padres não permitiam livros encapados com mulheres belas, sei lá se também com as mais recatadas, pois nunca tentamos encapar livros com freiras. A solução era fazer capas com livros que se não levavam à escola. Ainda hoje, tenho saudade de um livro de história cuja capa era todo o esplendor do rosto de Ava Gardner. Eu a tinha, também, na parede de meu quarto, o belo e inigualável rosto da mulher que Hemingway disse ser o “mais belo animal do mundo.” Era amor platônico. Pois a paixão da carne tinha que se esconder. E eu nunca tive coragem, por exemplo, de colocar, próxima de mim, uma foto da Sophia Loren. Era mulher demais e eu tinha medo dela: e se ela me convidasse a algo, o que eu faria? Correria, com certeza. E ainda corro dela.

Tirei de minhas estantes, para rever e colaborar com a onda nostálgica, uma das coleções que cuido com mais carinho e atenções. São alguns álbuns – desde a década de 1920 – da revista “Scena Muda”, diante dos quais embasbaco, quase não acreditando na qualidade gráfica deles. Pertenciam ao acervo de Rocha Netto, meu amigo querido, de cujos filhos fui companheiro desde a infância. A UNICAMP estava interessada no fantástico acervo dele, monumental documentação de esportes. E eu sabia que Rocha Netto sonhava em deixar tudo aquilo para Piracicaba. E por que não a UNIMEP? – perguntei-lhe. E me pus a campo, procurando o Gustavo Alvim, atiçando os ânimos para o acervo de Rocha Netto continuar conosco. E continuou, numa atitude de Alvim e Almir Maia que Piracicaba deve continuar agradecendo. Mas eu fiz, ao Rocha Netto, um pedido: “Você me dá, como presente, a coleção da “Scena Muda”, que nada tem a ver com esporte.” E assim foi. E estão comigo as belas e históricas revistas.

Quem já ouviu falar ou se lembra de Miss Ann Penington? Pois é. Tratava-se de uma das estrelas da Fox-Film Corporation. Era apontada como “typo de belleza no cinematographo”. Fazia o estilo melindrosa. Mas lá está ela, em 1926, absolutamente sensual, de pernas de fora, seios quase à mostra, cigarrilha nos dedos, exibindo-se toda. (A foto da página é do Google.) E, para falar a verdade, com muito mais sensualidade do que a nudez total das bobalhonas que se mostram em Playboy. Confirma-se: nada há de novo sob o Sol. Mudam, no entanto, os estilos. Nem sempre para melhor. Bom dia.

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