2008, número mágico, igual a 10 e a 1

picture (13)De números, pouco entendo. Mas eles me encantam, misteriosos e sagrados desde a minha primeira leitura de “O homem que calculava”, do Malba Tahan. E havia meu pai que, com seu sangue árabe, falava de números como se dissesse de milagres, de bênçãos. Ele se deslumbrava com Pitágoras para quem “tudo é número” e, portanto, que o número é divino, a força que mantém a permanência eterna do cosmos, essas coisas, se é que ele as disse mesmo.

Meu pai – também por seus segredos esotéricos maçônicos – tratava os números com o respeito sagrado. Ele tentava me explicar que o universo, as formas do cosmo, podem representar-se por números: 3, o triângulo; 4, o quadrado, 5 o pentágono, assim por diante. Na escola, no cotidiano, até na vida religiosa – ou especialmente – os números eram reverenciados ao nível da sabedoria, tanto assim que a Verdade apenas poderia ser alcançada pela Sabedoria e pelos Números.

Ora não sou suficientemente tolo para me atrever a brigar ou a discutir com números, para ignorar o que, desde a remota Antiguidade, se acredita digam e signifiquem os números. Li que, num livro da Bíblia, está escrito que “Deus ordenou tudo segundo medida, número e peso.” Judeus, hebreu, cristãos, babilônios, caldeus, chineses, sumérios, em todos os tempos e em todos os quadrantes não houve civilização ou cultura que não se rendesse a esse poder digamos que mágico dos números.

O mistério está nos livros santos, de quase todas as religiões, nos pensadores. Para eles, existem números santos e demoníacos, números benéficos e aziagos, de bons e de maus agouros. Pergunte-se a alguém de um número 13, numa sexta-feira 13, em agosto. E o 666? Na Igreja Católica, o sete é complicado: sete dias da semana, sete pecados capitais, sete sacramentos.

E o zero, que milagre maior? Tanto tempo levou para ser reconhecido como número e, no entanto, a descoberta do zero (0) é uma das mais divinas chispas da inteligência humana. Sem o zero, a humanidade não teria saído das cavernas, continuaria contando até o número nove (9), não teria a intuição do infinito. Pois zero é nulo e é infinito ao mesmo tempo. É o nada que permite a percepção ou a ambição do tudo. Quem não inicia do zero não vai a lugar nenhum. E quem, querendo recomeçar, se não retomar do zero ficará onde tropeçou. É o Ponto Z, o ponto de equilíbrio, de encontro, onde as possibilidades e as perspectivas diferentes ou conflitantes podem se encontrar.

Nada, pois, sei de números. Mas o ano 2008, como número, tem um significado profundo, quer o olhemos com olhares santificados ou supersticiosos, de respeito ao mistério ou de receio esotérico. São dois zeros separando os números 2 e 8. Somando-os, o segredo aparece : dois mais oito igual a 10, “o número redondo”, dos dedos das mãos, do conjunto fechado, do círculo, do “deus hitita do tempo”.

O número 10 representa a conclusão dos acontecimentos históricos: dez gerações de Adão a Noé, dez pragas do Egito, o “10x10x10” (mil anos) que duraria o reinado de Jesus, os dez mandamentos, o dízimo (décima parte) de todos os frutos, os dez talentos, os 10 chifres do dragão do Apocalipse. Para Pitágoras, o 10, “sendo a soma dos quatro primeiros números”, é “a mãe que tudo abrange e tudo limita.” E, na regra dos noves fora, o número é 1. (10, noves fora, 1). Que é o início, o passo primeiro, o começo.

Seja-nos, pois, bem-vindo esse abençoado 2008, tempo do primeiro e novo passo. Amém. E bom dia. (Ilustração: Araken Martins)

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