A dona do mundo

Fosse há alguns anos, haveria, eu, de preocupar-me com conselhos que se me revelaram sábios: “não se briga com quem usa saia.” Naqueles anos, briguei, perdi. É que padre, mulher e juiz usavam saias, quase todos eles. E, contra eles, a briga sempre foi inglória. Atualmente, já dá para arriscar um bom forrobodó, pois é cada vez mais raro ver mulher, padre ou juiz com saia. O vestido, a batina e a toga como que saíram de moda. Mas mulher é mulher. Com ou sem saia. Disso não tenho dúvida.

O problema é que as vestes são litúrgicas. De repente, quando menos se espera, lá nos vem a surpresa: o padre, que estava de mangas de camisa, veste a batina; o juiz, de calça jeans, põe a toga. E a mulher, aparece toda serpentífera – não sei se essa palavra existe, mas eu quis dizer de serpente, mulher e Eva, serpente, maçã, essas coisas. Então, toda serpentífera, a mulher aparece de vestido, de saia, minissaia, de “lingerie”, do jeito que o diabo gosta. E quer.

Mulher é bicho feio. Epa, perdão, reviso-me: é bicho bravo. Apenas bravo. Pois não há mulher feia. Hemingway, de Ava Gardner, já havia dito: “é o mais belo animal do mundo.” Logo, mulher é animal belo. Mas bravo. E paremos por aqui, antes de confusões ideológicas. Com mulher, não brigo mais. Use saia, não use. Aliás, não brigo com mais ninguém. Nem comigo próprio.

Mas há um equívoco, penso eu: como quase todos os padres, mulheres e juízes aboliram a saia, a vida e as relações parecem ter ficado mais fáceis. Acho que não. Complicaram-se. As vestes são litúrgicas. E, quando se vão, vai-se, também, muito da reverência que despertavam. Isso é sério. As vestes são como que uma representação das pessoas. Um rei não se veste como o plebeu. Nem sacerdotes como os devotos. Juízes, preservando dignidades antigas, vestiam-se à imagem de sumos sacerdotes. E sacerdotes engalanavam-se como se a vida fosse um altar. E é. Quem viu viu.

Tempos do profano são caóticos. E é pena que feminino e masculino estejam tão indefinidos. O mundo unissex não tem graça. Mulheres, quando assumem seu poder universal, ficam donas de tudo. Da cozinha às empresas, da cama ao fogão, dos controles ao esbanjamento, da crueldade à doçura. O que há, por exemplo, de mais rude do que uma mulher no comando das coisas, na chefia de pessoal? Uma guerra dirigida por mulheres ou terminaria em uma grande fofocagem ou numa carnificina jamais vista. “Remember” a Thatcher, que se tornou baronesa.

O complicado é que, na mulher, há perigo sempre: se está de farda, se com saia; se lutando box, se enfeitadinha, bonitinha, cheirosinha. Tem homem fugindo de mulher. E há mulher reclamando: “falta homem.”, já ouvi queixas. O fato é que, diga-se o que se disser, há uma doçura embutida na mulher que a transforma em dona de tudo. Dona do mundo. E até a poderosa indústria automobilística já entendeu que quem manda é a mulher. Marido está cada vez mais descartável.

A indústria, há alguns anos, já descobrira: de cada dez automóveis vendidos, seis são comprados por mulheres. Elas é que escolhem. Deram sugestões e as mudanças começaram: assentos especiais porque elas usam salto alto; porta-malas com dispositivos para sacolas de supermercados; espelhos maiores nos quebra-sóis; mais luzes nos painéis, com espaços para colocar mil-e-um objetos; banco traseiro móvel para facilitar contato com as crianças. Só havia um problema, não sei se já resolvido: mulher queria fosse aperfeiçoada a acústica interior do carro. Para ouvir bem tudo o que todos falam. É o carro da dona do mundo. Bom dia.

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