A escritora Vera Fisher

Afinal de contas, o que é um escritor? E quando se é escritor? Confesso que essa tem sido, para mim, uma das minhas grandes dúvidas. Pois desde a minha infância nutri o sonho de ser escritor e, ainda hoje, não me sinto em condições de afirmar que eu já o seja. Para mim, o escritor é aquele que não apenas vive de seus escritos, pois jornalistas, redatores, escrevinhadores também o fazem. Escritor é o que tem uma obra, sendo, pois, alguém em permanente construção.

Por isso, acanho-me em, quando se referem à minha atividade profissional, em dizer-me escritor, ainda que o mais que fiz na vida foi escrever, acho que apenas isso. E estranho quando vejo articulistas esporádicos, colaboradores de jornais, autor de um que outro livro identificando-se como escritor. Seria, permitam-me o exagero, quase o mesmo que um esportista que participa das peladas entre amigos em fins de semana considerar-se jogador de futebol, sei lá.

Os alemães têm uma palavra belíssima, em meu entender, para designar o escritor: “Schrifsteller”. É aquele que põe, à disposição de outrem, o seu saber escrever, o que dá essa sua capacidade, a da escrita, para outros. Na realidade, trata-se de uma dádiva da escrita, a entrega do saber escrever e do saber contar. Ora, quem mal sabe fazê-lo não pode ser um “Schrifsteller”.

É abismante o destaque que a nossa perambulante chamada grande imprensa tem dado a um capricho ou a uma outra besteira da atriz Vera Fischer, cujo maior atributo foi sua beleza, agora prestes a definhar. Pois Vera Fisher, com sei lá se descaramento ou ignorância total, começou a publicar os seus 10 livros, todos eles, segundo ela, escritos em menos de um ano. Ela revela nem saber como os escreveu, o que escreveu, a não ser que tomou do lápis e do papel e foi deixando que as “coisas saíssem”. Convenhamos: pode haver tudo em seus prodigiosos 10 livros, menos literatura. Aliás, como ela mesma diz: “há muito sexo, pois não sou freira”.

A quantidade de livros que La Fisher irá publicar representa, para ela, uma obra. Na verdade, o escritor é aquela que tem escritas múltiplas, como que um mosaico de escritas que formam a polifonia das muitas que se vão cruzando naquilo que se escreve. Por isso, é uma construção, quase sempre inacabada. Agora, Vera Fisher será levada, pela imprensa e pelos amiguinhos das assessorias, ao pódio dos escritores nacionais, sem que ninguém jamais tenha visto sequer um de seus originais. Por sinal, o fenômeno Paulo Coelho deu margem a um derrame de mediocridades e de oportunismos, algo que foi detectado pelo notável crítico brasileiro, o imbatível Wilson Martins, autor da “História da Inteligência Brasileira”. Quando lhe perguntaram por que não fizera qualquer referência a Paulo Coelho, o formidável intelectual apenas respondeu: “Eu trato de literatura; ele é um mágico.”

Aguardemos, pois, para 2011, o sucesso editorial de Vera Fisher, que terá, por obra e graça dos meios de comunicação, todos os seus livros entre os mais vendidos e, quiçá, concorrendo aos prêmios literários de fim de ano. É isso. E bom dia.

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