Agonia de um certo jornalismo

imagem-jor-inv-pbAté recentemente, houve a inútil e vã tentativa de se minimizar o advento verdadeiramente revolucionário das novas tecnologias de comunicação. E das novas formas de utilizá-las. Será tolo quem negar estejamos, agora, em uma nova realidade mundial, que alcança a tudo e a todos, em todos os continentes. E, portanto, também em Piracicaba, apesar de alguns grupos que acreditam apenas no próprio umbigo. O poder econômico é instável. O ideológico é atemporal. E é fácil entender: grandes fortunas, poderosos empresários desapareceram. Mas o pensamento de um Aristóteles, de um Platão continua vivo e o Ocidente ainda se pauta por seus princípios.

A imprensa – chamemos assim os veículos de comunicação, incluindo os eletrônicos – faz parte desse poder ideológico. Ou fazia. Pois, nos tempos do império do mercado, a informação se tornou, também, uma indústria, aliás poderosa e essencial, alinhando-se, desgraçadamente, quase sempre aos poderes político e econômico. O jornalismo impresso inclui-se nesse mercado caótico e de princípios duvidosos. Tornando-se empresas, jornais buscam, também, vantagens e lucros. Sem eles, não sobreviveriam. A era digital, no entanto, começa a alterar todo o sistema.

Essa transformação apanhou desprevenidos apenas aqueles que se deitaram em suas camas confortáveis. Pois os sinais dessa revolução tem-nos sido dados há algumas décadas. Nos 1980, fui privilegiado, novamente, pela vida, ao ter a honra de ser indicado, pela CNBB, como membro de um grupo de estudos organizado pela CELAM (Conferência Episcopal da América Latina) para estudar o que seria uma “Teologia da Comunicação”. Já se anunciavam os novos tempos, que se tornariam os atuais. E a ainda tímida presença da internet possibilitava elucubrar novas expectativas e perspectivas. Foi quando – com longos encontros no Brasil (em Piracicaba), no Peru, na Argentina e Chile – se chegou a uma previsão então tida como temerária: o jornalismo impresso sobreviveria apenas se fizesse, por si mesmo, grandes transformações e com novas propostas. Mais do que os “grandes jornais”, haver-se-ia de acreditar no surgimento de pequenos veículos de bairro, de comunidades, os “provincials papers”. E o povo – não mais os editores, de suas cadeiras confortáveis – passaria a pautar a imprensa.

A queda de tiragem dos veículos impressos – jornais e revistas – e a diminuição de audiência de redes de televisão são prova insofismável de que a população começa a encontrar novos meios de informação e de comunicação, tendo-os como mais confiáveis do que os tradicionais. O império das agências internacionais e nacionais de notícias nivelou a chamada “grande imprensa” a um só patamar. E a união das linhas editoriais rouba a singularidade dos veículos. Por isso, quem lê o Estadão, a Folha, o Globo, as revistas Veja e Época, está, na verdade, lendo a mesma coisa, sendo informado ou desinformado da mesma maneira. Por outro lado, em campos opostos, quase se dá o mesmo com Isto É, Carta Capital, Caros Amigos.

A notícia – para o jornalismo impresso – não tem mais sentido. Até mesmo nos noticiosos de tevê, a notícia aparece requentada, superada. A internet – e os veículos que inteligentemente  souberam adaptar-se a essa magia tecnológica – já informou tudo, mais rapidamente e primeiro. O “furo” jornalístico desapareceu. As versões para o mesmo fato multiplicaram-se pela rede. A notícia se espalha como em conversa de comadres. E os comentários. E as análises cada vez mais confusas, muitas vezes estapafúrdias. Enfim, estamos no terreno realístico de todas as possibilidades, incluindo as mais nefastas.

Assistimos, sim, à agonia de um certo jornalismo. O jornalismo comprometido com grupos, preguiçoso nas pesquisas, acovardado no posicionamento, distante dos anseios da população, surdo à voz das ruas. Esse jornalismo vangloriou-se de “de ser imparcial, independente, objetivo.” Mas isso não existe. O jornal é parte e, portanto, parcial. Apenas tem que ter a coragem e a honestidade de revelá-lo: “penso assim, somos assim.” É interdependente, pois se mantém pelo apoio dos leitores e da publicidade. E – a não ser na informação da notícia – nada tem de objetivo, pois há a subjetividade do jornalista, dos redatores, da própria empresa. O jornalismo  não precisa de mais adjetivos do que um só: tem que ser honestidade. Honestidade é sua marca. Ou seu fim.

Quando a credibilidade voltar, o jornalismo impresso será fundamental para interpretar, analisar, investigar, refletir e opinar sobre os acontecimentos. Pelo menos, é o que eu gostaria, ainda, de ver. Pois, mesmo com a internet, o grande conflito continua: velocidade X profundidade. Quanto mais veloz é a informação, mais superficial ela é. Quanto mais lenta, mais profunda, na análise, na reflexão, na opinião. Superficialidades entrarão no rol dos entretenimentos. E o atual jornalismo impresso tem-se especializado nisso, com exceções tão raras que, infelizmente, não influem em nada.

Mais do que informação o jornalismo voltará, então, a colaborar para a formação. Bom dia.

3 comentários

  1. Antonio Carlos em 15/10/2013 às 09:38

    Obrigado pela aula, mestre.

  2. Delza Frare Chamma em 15/10/2013 às 12:28

    Aplausos mil!!!!!!!!!! Reforço o comentário anterior: Que grande aula!!!!! Que essa agonia desse certo jornalismo manipulador e reprodutor e que já durou muito, em sua irresponsabilidade e oligopólio brutais o jornalismo impresso será fundamental para interpretar, analisar, investigar, refletir e opinar sobre os acontecimentos.seja substituído, sim, por um jornalismo impresso, que, como diz o autor, interprete, analise, investigue, reflita e opine sobre os acontecimentos. A reflexão é a única porta para uma informação consciente e crítica.

  3. Delza Frare Chamma em 15/10/2013 às 16:34

    Deu erro e acabei publicando sem perceber um comentário incompreensível. Sei lá como! Agora é que percebi. Sinto! Pena não poder deletar que é o que faria de imediato. rsrs… Mas o queria dizer deve ter passado, cumprimentar o autor pela crônica e concordar com ela.

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