Ainda e sempre, “vanitas vanitatum”

E quem, dentre nós, lá não tem as suas vaidades? No plural, elas, as vaidades, até podem ser interessantes, motivadoras. Há quem se envaideça de seus cabelos louros ou de tranças crespas. Quem não se envaidece, após dias ou semanas de regime alimentar, por, olhando-se no espelho, ver que a barriga murchou? E parar de fumar, como, após tê-lo conseguido, não se envaidecer?

Envaidecemo-nos com os filhos, com conquistas, com elogios, com cumprimentos, até mesmo quando se elogia e se cumprimenta o nosso cãozinho vira-lata. Vaidades, pois, há muitas. Temo-las quase que sem conto na vida. A tragédia está no singular: a vaidade humana. Essa destrói e enlouquece, maldição das origens. Diz-se, aliás, que os deuses, quando querem destruir os homens, alimentam-lhes a vaidade. É o suficiente para o amargo fim.

Pelo que aprendi – mas nunca sei quando ou se aprendi corretamente – foi-nos deixada como herança, lá das funduras hebraicas, a constatação do absurdo caráter ilusório, senão da vida humana, pelo menos da maneira de viver do homem. O Eclesiastes – onde crentes e ateus, sábios e tolos, encontram pontos de apoio – é, por assim dizer, como que um discurso sobre a vaidade. Lá está o “vanitas vanitatum, et omnia vanitas”: vaidade das vaidades, e tudo é vaidade. É a ambição mesquinha, a valorização da coisa vã, das nulidades.

A vaidade parece determinar o perfil do homem. Ou ele se torna sábio, enfrentando-a, ou sucumbe a seu fascínio, fazendo-se, então, palhaço. O mundo regido pelo mercado – com leis ainda mais selvagens do que as do capitalismo original – criou meia dúzia de espertos e multidões infindas de palhaços. Antigamente, falava-se das “Sete Irmãs”, multinacionais controlando tudo. Hoje, são “G-8”, “G-9”, já se propôs até “G-21”, nações dominando o mundo pela simples manipulação das vaidades das multidões e da doentia vaidade de cada um. Valoriza-se a coisa vã.

Isso não é novo. Por isso, os da minha geração parecemos vinho velho em barris novos. Mas seria diferente com vinho novo em barris velhos, com vinho e barris velhos, com vinho e barris novos? Nada há de novo sob o Sol, a não ser o contexto. O que aí está já se denunciara e prenunciara num documento polêmico, “Protocolo dos Sábios do Sião”, de autoria discutida, se de líderes sionitas ou anti-semitas. Hoje, importa menos saber de origens ou de intenções: como prévia do apocalipse, já aconteceu o anunciado no “Protocolo dos Sábios do Sião”.

Essas coisas, por que divago diante delas? Por medo. Por susto. E pela desesperada consciência de – mesmo ainda envolvido em vaidadezinhas pessoais – precisar lutar contra a suicida vaidade humana. Não posso participar disso. Quando completei 40 anos, vi-me no espelho, o palhaço envolvido por lutas de poder, ao lado de outros e, também, de espertalhões. Eu me enxergara numa peça teatral, no Rio, cujo título dizia tudo: “Leiaute”, acho que do Celso Queiroz Telles. Eram pedaços da vida, de ambições, de tolices, de sonhos e da vaidade de um publicitário. O fim era trágico.

Naquele palco, eu me vi. No camarim, queixei-me aos atores: “Vocês contaram a minha história, a de um tolo.” Voltei a Piracicaba, vendi meu jornal, resolvi fazer, de minha vida, um jardim. E descobri um milagre: tenho sêmen de flor. Cada semente, que planto, floresce.

Mas, agora, vejo a feira das vaidades em Piracicaba, a loucura da vaidade na Igreja Metodista, vaidades criminosas entre políticos e o medo aumenta. Não posso e não devo mais sair de casa, eis a conclusão que se me consolida. Tenho um jardim para cuidar. E gente querida para compartilhar dele. Bom dia.

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