Arte e banalização

LivrosCerta vez, o Lino Vitti, meu amigo querido, contou-nos sobre a sua brabeza diante da pouca importância que se dava ao lançamento de livros em Piracicaba. Ele tinha razão. E, ao mesmo tempo, não tinha. Então confessei. O culpado disso foi João Chiarini.

Piracicaba já sofria da “síndrome do João Chiarini”. E eu não admito, em nenhum instante ou circunstância, que alguém duvide de minha amizade pelo João Chiarini, pelos laços que nos uniram, por tudo o que João e eu passamos, juntos, em dificuldades, lutas e lealdades. Fomos, por mais de 30 anos, amigos fiéis, leais, íntimos, eu amava João Chiarini e sei que o João também me amava. Mas o João Chiarini, em sua genialidade, era um louco. Louco varrido. De tão generoso, João Chiarini chegava próximo da inconsequência. Brigávamos muito, discutíamos, pois, o João, em sua ânsia de prestigiar e de estimular a cultura, não separava o joio do trigo. Qualquer iniciante, tivesse ou não talento, encontrava, em João Chiarini, um estimulador.

“Você é um gênio! “- dizia, ele, a todos os jovens. E, então, todos os jovens passavam a acreditar, pelo menos por algum tempo, ser gênios. Eu achava isso bonito, pois era um estímulo.

E o meu raciocínio sempre foi o seguinte: “O João estimula a todos. Quem tiver talento, irá, animado pelo João, em frente. Quem não tiver, mesmo animado, acabará desistindo.”

Isso aconteceu. Mas o João Chiarini, em sua ânsia de descobrir genialidades, criou-nos problemas muito sérios. Pois, de repente – pela voz e pelas mãos de João Chiarini – Piracicaba acabou se transformando na terra em que, em relação ao resto do mundo, mais existiram artistas, escritores, poetas, cronistas, jornalistas, pintores, escultores. A Academia Piracicabana de Letras é um exemplo disso. Deve ser a Academia, em todo o mundo, que tem mais acadêmicos e imortais, mesmo que nunca tivessem escrito nada. Há, até mesmo, acadêmico que recebeu diploma por uma única obra de escrita: assinar cheques.

Por isso, àquela época, disse a Lino Vitti: quem pode levar isso a sério?

Nada resiste à banalização. Nem a arte. Ou especialmente ela. Sim, o pessoal não vai mais em lançamento de livros. Mas por que haveria de ir? Bom Dia.

Deixe uma resposta