Bafos e bafinhos de onça

picture (78)De quando em quando, alguém me lembra que me tornei decano da imprensa de Piracicaba, por ainda estar, eu, em atividade. Ainda não sei, porem, se se trata de elogio ou de ofensa. De qualquer maneira, porém, em atividade permanente, sou o velhinho da turma. Continuasse na ativa, seria o Lino Vitti, todo lampeiro, ainda escrevendo, impávido e colosso. Ia falar do Mauro Vianna, mas ele se enfurece quando lhe insinuo a idade.

São, agora, 53 anos de jornalismo. E isso, pelo menos, me dá o crédito de ter visto alguma coisa. Especialmente em política. Por isso, a sensação é a de “dejá vu”, de filmes muitas vezes vistos. E dos quais se conhecem detalhes do começo ao fim. Em filme político, o final é sempre triste. Para o povo.

Tendo visto “coisas do arco da velha”, perdi o encanto até com a sabedoria de pensadores como Maquiavel ou o Cardeal Mazarino, teóricos da malandragem política. Fosse hoje, eles registrariam as mesmas coisas. Em torno do poder, vale tudo. Em política, há verbos atemporais: mentir, fingir, dissimular, prometer, iludir. A arte está em fazer as coisas sem ruborizar-se. Em ano eleitoral, elas ressurgem, como aquela de Piracicaba ser portal e marco zero do MERCOSUL, lembram-se? Era bafo. Pior ainda: bafo de onça.

Ora, meninos: “bafo de onça”, o que é? Vá lá: lero, blá, mentira, enganação. Nas últimas décadas, Piracicaba e o Mercosul foram o “leit motiv” de políticos para animar a população. Houve, até, candidato que, passeando de lancha ao longo do rio, saudou a vinda da barragem de Santa Maria, que iria assegurar “100 mil empregos”. Só faltou dizer que, apenas, para atender Ibitiruna e Pau Queimado.

Vivido mas ignorante, tenho pedido – ao longo dessas décadas – que políticos me expliquem como e porque essa barragem milagrosa faria escorrer leite e mel da terra amada. Ou uma coisinha simples: se é de tal forma importante, por que só se falava disso em ano eleitoral? Fui até o escritório do falecido Serjão Motta, na Hidrobrasileira, que fez os estudos e o projeto da barragem. O sócio dele, Xavier de Mendonça, mostrou-me tudo. Mas não soube explicar, também ele, qual o interesse do governo na grande obra. Era um projeto para político levar debaixo do braço. E, ainda que milionário, um grande “bafo de onça”.

Antes do Mercosul, a coqueluche dos políticos era a promessa de uma universidade piracicabana. Até projeto foi aprovado pela Assembléia Legislativa, “Universidade Luiz de Queiroz”, muito antes de surgir a Unimep. Está lá, arquivado nos baús da Assembléia. Era “bafo de onça” médio, mas que funcionou, à época, a favor de dois de nossos líderes, Salgot e Aldrovandi.

Geraldo Bastos – amigo cuja ausência me machuca ainda hoje – foi o nosso Maquiavel daqueles tempos, o Mazarino do deputado Bentão Gonzaga. Ameaçada a reeleição de Bento, Geraldo inventou haver cargos no governo estadual, que seriam preenchidos por indicação de políticos. Milhares de pessoas se inscreveram e, dias antes da eleição, todas receberam telegramas instruindo-as a aguardar publicação no “Diário Oficial”. A votação de Bentão foi espetacular, a última. Nada foi publicado. “Bafo de onça” enorme.

Houve o bafo de onça do Hospital Regional do Estado, na divisa de Piracicaba e Rio das Pedras. E, por muitos anos, o da duplicação final e definitiva da Rodovia do Açúcar em nosso trecho, essa que se tornou Comendador Mário Dedini, quando ele, Mário Dedini, teve título ainda mais nobre: Grande Oficial Mário Dedini. Já há novos ruídos de aquele trecho da Rodovia do Açúcar estar saindo. Atrás de minha orelha, a pulga é a conclusão do já descaracterizado Projeto Beira Rio. Pois há três modalidades de “bafo de onça”: o grande, como foi o do Mercosul; o médio, como estradas concluídas em véspera de eleição. E o “bafinho de onça”, projetos como o Beira Rio que já se arrastam desde o governo de José Machado. Sair, um dia saem. Quando é que são elas. Enrolados, são bafos de oncinhas. Ou bafinhos de onças. Bom dia.

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