Bancada do bife, do churrasco, do cimento, de Jesus…

ykengaComecei a desistir da importância ou da validade de meu voto em eleições, no dia em que um pastor dito evangélico, cá de Piracicaba, declarou com muita alegria e com orgulho incontido: “Fiz um negócio com o Thame e dei, para o partido dele, 50 mil votos!”  A declaração foi divulgada pelo “Jornal de Piracicaba”, logo após a primeira eleição de Barjas Negri.

Não tomei conhecimento de nenhuma denúncia por corrupção, de nenhum inquérito, de qualquer reação de outros partidos ou de uma mínima ação do Ministério Público. Aliás, Piracicaba é – a se considerar o silêncio de quase toda a imprensa, a leniência dos partidos e os serenos poderes públicos, incluindo o Ministério Público – a cidade brasileira onde não existe corrupção. Nada! Nenhuma!

Por aqui, ninguém sabe – ou quase todos fingem desconhecer – que a corrupção é da essência do poder, da natureza da política partidária. Por isso, nunca é demais lembrar que, ainda no século 18,  Lord Acton – um dos maiores historiadores de todos os tempos, ministro inglês, cultura imbatível – advertiu o mundo: “O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente.” Ler Lord Acton é, ainda hoje, receber banhos espirituais de humanismo.

Em meu entender, portanto, mal consigo entender quando políticos se acusam, entre si, de corrupção. É como falar de corda em casa de enforcado. Ou, todos com telhados de vidro, atirar pedras no do vizinho. Quanto à corrupção, só nos resta – lamentável mas realísticamente – avaliar qual corrupto ou quais causam dano maior ou dano menor. Não se trata, pois, de mal menor ou maior, pois mal é sempre mal. Trata-se de avaliar ou prever o dano. Quais governantes irão prejudicar mais ou menos o povo?  Eis o resumo da ópera.

Ora, o Brasil começa a discutir – como se fosse a grande solução – as formas de financiamento de campanhas eleitorais. Isso é querer proteger-se da lama usando camisola de seda. Não há saída para isso. Pois qualquer fórmula que se proponha já estará aprioristicamente comprometida. Ou queremos fingir não sermos o país de instituições consagradas e pétreas, tais como o caixa-dois, a propina, o jeitinho, a incrível – e eu diria até que formidável! – capacidade de driblar leis, regras?

Das últimas eleições, os dados – de financiamento de campanha – causam cansaço desanimador. Apenas 10 grandes empresas brasileiras foram as que mais doaram para eleger 70% da Câmara Federal. Sim, 70%! E serão esses parlamentares que deverão discutir a reforma política, tributária em nível constitucional. Mais uma vez, as raposas cuidarão do galinheiro.

Elencaram-se algumas bancadas de deputados no Câmara Federal: a Bancada do Bife ( o grupo JBS e frigoríficos); a dos Bancos (em especial Bradesco e Itaú); a do Cimento (as grandes empreiteiras: OAS, Andrade Guttierrez, Odebrecht, Queiroz Galvão); a do Churrasco ( formada pela do Bife e cervejarias). E, obviamente, a santificada Bancada de Jesus, na qual pontifica o Bispo Edir Macedo, o religioso que está entre os 50 bilionários do Brasil. E dono de um templo, o de Salomão, maior do que a Basílica de Aparecida.

Pois é. E,  quando o povo sai às ruas, a imprensa-empresa chama a multidão de baderneira. O espírito de Maria Antonieta está em Brasília. Mas a Bastilha, também. Resta aguardar. Bom dia.

1 comentário

  1. Luiz Fernando M Ferraz de Arruda em 10/11/2014 às 21:55

    Pois é Cecílio, como diria o “Barão de Itararé”: “Os vivos são e serão sempre, cada vez mais, governados pelos mais vivos”… e continua… “A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas, em geral, enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam neles.”
    Saúde amigo! Abraço.

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