Bebericagens presidenciais

picture (26)Acho que nunca “pensei cá com meus botões”. Mas acabo pensando sempre que fanáticos da imprensa se referem à cachacinha que o presidente Lula parece gostar de tomar, como a grande maioria da população brasileira. Por quê, raios, o presidente Lula não passou a beber apenas do “Romanée Conti”? Com porre de “Romanée”, o falatório maior seria um outro mexerico do Fernando Henrique: “Vejam, como o poder muda as pessoas! Antes, tomava pinga em boteco, agora só bebe vinho especial, “Romanée Conti! Imagine se esse “Grand Cru” da Borgonha é para a bico dele, imagine.”

O Brasil – é só lembrar – quase parou pelo fato de Lula, o ex-metalúrgico, ter provado do “Romanée”, um dos preferidos de Madame Pompadour. Agora, até jornalistas internacionais implicam com a cerveja e a cachacinha de nosso Mr.Da Silva. E se fosse o champanha de Fernando Henrique? Ou o uísque do outro Fernando, o Collor, que popularizou a marca “Logan”?

O presidente, que é esperto como ele só, estou apostando que acabrá convidando jornalistas para uns drinques no Palácio. Jornalistas, entre um copo e outro, iriam admirar as estrelas de sálvias com que dona Marisa abrilhantou os jardins de Burle Marx. Não fosse no Palácio, seria altamente diplomático levar repórteres e correspondentes para uma churrascada na Granja do Torto. E bater uma bolinha. Ao som, obviamente, de Zeca Pagodinho, o preferido. O “New York Times” anunciaria “urbi et orbi”.

O presidente Lula – que anda de amores com José Sarney – devia pedir-lhe algumas lições sobre a liturgia do cargo, de que é tão zeloso o senador. Veria, então, que ficar trocando de boné, erguendo caneca de cerveja, batendo bola com aquela barrigona de fora, isso não dá certo. Povão gosta de chiquê. Que o diga o “gentleman” Sarney com seu indefectível jaquetão. “Noblesse oblige”.

Ou, então, assumir os porres como o faziam Adhemar de Barros e Jânio Quadros. Em Piracicaba, certa vez, Adhemar , de bêbado, quase caiu do palanque. Alguém furara o balão da campanha, um belíssimo balão que pairava acima da torre da Catedral. Adhemar choramingava, enquanto Luiz Guidotti o segurava para não cair: “Furaram meu balão, furaram meu balão.” Quem mandou furar foi o Alberto Coury.

E Jânio? Mário Dedini convidara “la crême de la crême” local para recepcioná-lo na mansão da rua Santo Antônio. Jânio chegou já bêbado. Não cumprimentou ninguém, foi para o quarto e – ignorando o banquete – pediu arroz com feijão. Foi uma correria, seo Mário socorrendo-se da vizinhança, “quem tem feijão? Jânio quer feijão.” O dentista Toledo Piza, na outra calçada, tinha. Jânio comeu feijão e, passado o porre, foi-se embora. Levou e nunca mais devolveu um riquíssimo casacão de lã que Leopoldo Dedini trouxera da Itália. Leopoldo nunca o perdoou e, até o fim da vida, lamentava-se: “Jânio roubou meu casacão.” Aliás, na coluna de fotos cá de A PROVÍNCIA, há o registro de Jânio com o casaco do Leopoldo.

Antigamente, quando se falava de ver com os próprios olhos, dizia-se: “com esses olhos que a terra irá comer.” O advogado e jornalista Maurício Cardoso e eu – com esses tais de nossos olhos – presenciamos um porre homérico de Jânio no Guarujá. Ele teve um ataque como os do Maradona e lascou a mão na metade da cara de sua cara metade, dona Eloá. A mulher se estatelou no sofá. Nenhum jornal deu.

Lula irá aprender. Até bebericagem presidencial precisa de estilo. Fosse com “Romanée Conti”, a imprensa brasileira, imitando a estrangeira, escreveria que Mr. Da Silva é homem refinado. A vida é cruel. Bom dia.

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