“Big Brother” e os Sábios do Sião

É por opção e não por preconceito que nunca vi os tais “bigs brothers” da televisão. A promiscuidade contamina. Ou o ser humano se torna cada vez mais seletivo ou é engolfado pelos maremotos de misérias humanas provocados pela insaciável indústria cultural. É doloroso constatar como misérias e lixo aguçam interesses. Mais doloroso, porém, é saber tratar-se de um processo consciente de brutalização, de anestesia da pessoa humana. Quanto mais abrutalhado o homem, mais fácil de ser dominado. A arte refina; o lixo cultural robotiza.

A existência do “Big Brother” é trágica. O ingênuo espectador – que se delicia com um “voyeurismo” doentio – pensa tratar-se, porém, apenas de mais um programa indecente de televisão. Não se dá conta de um outro “Big Brother”, o verdadeiro, que nos domina, tornando dolorosamente real a profecia de George Orwell no livro “1984”. Escrito no final dos anos 40, “1984” previu essa onipresença do “Grande Irmão” em nossas vidas: vendo, ouvindo, infiltrando-se, o olho gélido do totalitarismo penetrando em alcovas, devassando intimidades. Orwell antevira o “Big Brother” real e todo poderoso, comandando as nossas vidas, a tirania buscando controlar até mesmo os nossos mais ocultos pensamentos.

A profecia fez-se realidade. O “Big Brother” está aí, nos satélites dos Estados Unidos, na arrogância com que violam correspondências, censuram telefones, controlam a internet. O “Big Brother”, lixo da televisão, banaliza o verdadeiro, fazendo caricatura dessa maldição capitalista de conseguir lucros até nas mais dolorosas tragédias humanas. Quem vê, com apetite de glutão, as misérias de um “Big Brother” da televisão nem sequer desconfia de sua vida estar controlada pelo “Big Brother” verdadeiro. O olho onipresente está sobre todos nós e o Grande Irmão não vem das estepes russas. O “Tio Sam” se transforma no “Big Brother”, quem diria? .

Logo após a II Guerra, os judeus foram, ainda outra vez, difamados e caluniados, sob acusação de serem autores de documentos intitulados “O Protocolo dos Sábios do Sião”. Tentava-se atribuir aos judeus um projeto de controle do mundo a pretexto de enfrentar o bolchevismo. Na verdade, eram as grandes corporações internacionais que se estruturavam para exercer esse domínio. Conseguiram-no. E, dolorosamente, aconteceu quase tudo o que constava daquele “Protocolo”. Apócrifo ou não, o documento continha propostas que – como o “Big Brother” de Orwell – solaparam estruturas. Algumas delas: “corromper a mocidade através de ensino que subverta valores; abalar as estruturas da vida familiar; dominar as pessoas por seus vícios; envilecer artes e prostituir a literatura; minar o respeito pelas religiões; propagar o luxo desenfreado; distrair as massas com diversões populares; despojar os povos de suas tradições; organizar vastos monopólios; estimular utopias de maneira a criar um labirinto de idéias impraticáveis.” E assim foi.

Não há necessidade de ser muito sagaz para localizar, hoje, o reino do “Big Brother” profetizado por Orwell. E, nem também – se fossem escritos agora – os autores de um protocolo para conquistar o mundo. O “Grande Irmão” está em Washington e o documento nada tem a ver com “sábios do Sião”. Os sábios estão no Pentágono. Enquanto isso, o “voyeurismo” da multidão delicia-se com o “Big Brother” da Globo. Estava previsto o emburrecimento das massas. Bom dia.

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