Buracos e cidadania

Sabem, aqueles buracos nas calçadas da rua Governador? Aliás, os de quase todas as calçadas da cidade? Pois é. Mas fiquemos, por enquanto, apenas com os da Governador, que continua sendo, ainda, a rua comercial preferida dos piracicabanos. Essa rua é nossa, deveríamos dizer a alguns comerciários e comerciantes mais novos, a camelôs, a ambulantes e, também, a vândalos. É uma história linda, a rua-mãe, geradora de todo o fortíssimo comércio de nossa terra. .

Sabem, pois, aqueles buracos da Governador? Quando chove, as calçadas formam poças onde se misturam xixi de cães e gatos, restos de sorvete, latinha de cerveja. E onde crianças caem e idosos tropeçam. Outro dia, ao descer da calçada para o leito carroçável – acho chique escrever isso: “leito carroçável” – tropecei num buraco, um lojista tentou me ajudar, falou: “Pois é, tem um buraco aí.” Pois é. Tinha mesmo. Tem.

Aliás, o nosso Roberto Antônio Cêra, há alguns dias, lamentou-se também de tombos e quedas em buracos centrais. Mas, pelo visto, políticos devem achar bonito calçadas esburacadas. Posso até imaginá-los pensando na Suiça: “Lembram queijos suiços, não?” E consigo até imaginar – no festival de moções e títulos que assola Piracicaba – um nobre edil propondo a criação de um prêmio: “A calçada mais esburacada de Piracicaba”.

De minha parte, sugeri – há alguns anos – uma grande festa de beleza, à época imitando a “Belezura” da Marta Suplicy. Propus um concurso sério, alegre, mobilizador da cidade toda, para se escolher a rua mais bonita e mais bem cuidada de Piracicaba. Os moradores ganhariam prêmios, haveria festa com banda de música, pipoca e pé-de-moleque. Com direito a discurso de prefeito e juiz. Disseram ser ótima a idéia, até tapinhas nas costas, recebi. E os buracos aumentaram. Talvez, queiram imitar os escombros de Bagdá, não sei.

As coisas, porém, nem sempre são do jeito que o diabo gosta. Às vezes, pioram. Mas podem melhorar, querem ver? Quem se lembrou dos buracos da rua Governador – ou de quaisquer calçadas nossas – aceite ler, por gentileza, a belíssima informação que vem a seguir. É um convite para participar de um seminário realizado também há alguns anos, intitulado “Calçadas e cidadania”:

 

“Muito já se falou sobre o risco que pedestres e motoristas sofrem com o

descaso e a deterioração das calçadas. Mas pela primeira vez, o tema será

realmente discutido e aprofundado, durante o 1° Seminário de

Calçadas. (…) O Seminário terá três painéis, entre às 9 e 18 horas. No primeiro, a discussão será em torno da situação atual das calçadas. Falará sobre o tema a professora Elin Tallarek de Queiroz, vice-presidente da Associação dos Condomínios do Brasil. (…) “A calçada é o espaço onde a cidadania começa a ser respeitada”, define o consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), engenheiro Philip Anthony Gold, que fará a palestra de abertura do evento.

No segundo painel, o arquiteto paulista Benedito Abbud

propõe adequação urbanística com a palestra “Calçadas e meio ambiente”. (…) Já no terceiro painel, o engenheiro Marcelo Beltrão de Almeida, diretor-geral do Detran-PR, fala sobre a maior segurança no trânsito com a melhoria das calçadas e aponta a má conservação delas como um problema de infra-estrutura urbana, fator de risco causador de acidentes. Na seqüência, o consultor em ambientes urbanos da Colômbia, Germán Madrid, faz uma análise sobre os espaços urbanos e a qualidade das calçadas.”

Pois é. Há muitos anos, isso se realizou em Curitiba. A sugestão foi feita. Mas nunca aconteceu aqui. Cidadania não é matéria prioritária de nossos homens públicos. Bom dia.

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