Cadê João Chaddad?

João ChaddadAcostumamo-nos a frases feitas e, assim, acabamos acreditando nelas. O relativismo materialista do mundo da produção – agora, também,  do espetáculo – tem, por sua principal característica, o utilitarismo da avaliação. Nesse mundo equivocado – e, por isso mesmo, responsável pela tragédia humana – tudo é aproveitável apenas por algum tempo para, em seguida, tornar-se descartável. Nessa estupidez interesseira, também as pessoas são descartáveis. Ou especialmente elas.

Uma afirmação falaciosa faz parte desse enredo fantasioso: “Ninguém é insubstituível.” Pura mentira, interesseira mentira. Pois todo homem é insubstituível. Ninguém substitui outro, na sua dignidade pessoal e responsabilidade. E isso parece ter sido projetado por Deus nas próprias impressões digitais, que não se repetem de homem para o homem. Além do mais, há homens que – por sua competência, qualidades pessoais, conhecimento, sabedoria ou outras virtudes – são imprescindíveis em sua época e em seu espaço. Por isso, há homens e mulheres memoráveis, porque  ficam na memória como heróis, mártires, santos, governantes, líderes.

Nem sempre um prefeito conhece sua cidade. Geralmente, prefeitos são eleitos por contingências de um momento. E, nos últimos tempos, pelas técnicas nem sempre honestas ou legítimas dos mecanismos da conquista de voto, que, por conhecidos, não cabem, agora, neste comentário. Prefeitos administram com o auxílio de técnicos, conhecedores, funcionários especializados. Dos que conheci e conheço – e conheci todos eles, desde Luiz Dias Gonzaga, nestes últimos 58 anos – apenas um posso reconhecer como um “entendido em Piracicaba”. Foi Francisco Salgot Castillon, engenheiro e assumido líder populista. Mesmo assim, ele se socorria de um homem que era, por assim dizer, “especialista nas vísceras de Piracicaba”, Fausto Fonseca Filho.

Mesmo Luciano Guidotti –  que promoveu a grande revolução urbana na cidade – pouco teria feito se não fosse com auxílio de homens como o engenheiro Odilo Graner Mortati, outro especialista em “vísceras da terra”. E foi no segundo governo de Luciano – de 1963 a 1968 – que surgiu um jovem arquiteto de nome João Chaddad, iniciando uma carreira brilhante que – atuando em diversas outras administrações e por 20 anos – se tornou o novo “especialista em vísceras de Piracicaba”, brilhante herdeiro de Fausto Fonseca e de Odilo Mortati.

Essas considerações, faço-as por estranhar a quase total exclusão de João Chaddad nesta atual e artificial administração do município. Certo que Chaddad seja apenas o vice-Prefeito e, portanto, alguém legalmente posto na expectativa de substituição do titular. Esse cargo, no entanto, Chaddad já ocupou anteriormente, mantendo-se, porém, ativo na administração, nas decisões cruciais para o município. Muitas e muitas vezes, como jornalista, discordei dele, sem, no entanto, jamais perder a admiração por seu trabalho e por serviços prestados a Piracicaba ao longo de sua carreira.

João Chaddad é um talento e um especialista que nenhuma administração consciente haveria de desperdiçar. Mas é o que me pergunto: “Cadê João Chaddad? Por que a sua ausência?” São perguntas que aumentam de significado quando se sabe do descontrole e da fragilidade da atual administração municipal.  Uma cidade que prescinde de seus melhores homens é uma cidade doente. Shakespeare, fosse dramaturgo de nossa época e de nossa terra, haveria de repetir-se: ”Há algo de podre no reino de Piracicaba.” Bom dia.

4 comentários

  1. Antonio Carlos Danelon em 25/11/2013 às 11:15

    Pode ser o preço pago por se deixar usar por administrações onde o ser humano só vale enquanto rende voto.

  2. Luis Fernando M. Ferraz de Arruda em 25/11/2013 às 21:30
  3. lahoz em 26/11/2013 às 20:55

    Na minha opinião ele não devia ter sido candidato. Acho que o ego usurpou-lhe a razão. O PSDB não fez boa escolha. Alguém mais jovem ficaria melhor na vice. O que não quer dizer que não pudesse ser útil na Prefeitura.

  4. joão chaddad em 07/10/2015 às 19:07

    estou fazendo uma profunda reflexão sobre a opinião do lahoz-em 2030 vou deixar a política

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