Céus e bons negócios

picture (35)De quando em quando, surgem, na imprensa, reações diante da chegada do fim do mundo. Essa multiplicação de templos religiosos – alguns deles, como tendas de milagres – soa como aviso de o fim do mundo estar próximo. E Piracicaba parece na encruzilhada: ou é paraíso dos novos messias ou, então, é o lugar do mundo com mais demônios por metro quadrado. Não se enganem: quando surgem profetas, anjos e demônios estão em luta. Fico de olho aberto: perto de onde moro, uns dez barracões transformaram-se em igrejas.

Fim do mundo não é novidade. Desde os primeiros tempos do cristianismo, o anúncio tem sido feito. Dizem estar previsto no Apocalipse, mas não sou de ler essas coisas, arrepiam-me os pelos. Alguns esperam a nova volta de Cristo, outros ainda aguardam o verdadeiro Messias. Também os muçulmanos – misturando crenças cristãs, judaicas e persas – aguardam o “Bem Dirigido”, que irá instaurar na terra um reino de paz precedendo o juízo final. Talvez o Bin Laden seja um desses messias. Ou quem tentou sê-lo talvez tenha sido Mr.Bush, pois as idéias milenaristas – crença de mil anos de bem-aventurança antes do fim do mundo – acompanham os Estados Unidos desde os tempos dos pioneiros. Obama leva jeito de iluminista.

Até o Brasil foi visto como a nova terra de Adão, milenaristas portugueses e espanhóis acreditando na redescoberta do Paraíso. Não aconteceu até agora. Nem o messiânico Lula ainda o conseguiu. Fim do mundo, no entanto, acontece todo dia. A Terra Prometida não estava sequer no Banco Mundial, que esbanjou leite e mel durante muito tempo pelo mundo. Acabou.

Nas minhas poucas saídas de casa, o terror me atinge logo nos primeiros postes. Placas apocalípticas amedrontam: “Deus te vê”, “Confesse seus pecados”, “E se fosse o último dia?” Fico nervoso, quase sempre imagino um demônio saindo de alguma esquina e, então, entendo a proliferação de igrejas e de templos e de cultos. Fico com saudade do terreiro da Mãe Iolanda, quem se lembra dela? Era mãe-de-santo que não poderia ter dado certo: loura, olhos azuis, branca de neve. Não havia santo que baixasse nela. Mas Iolanda tentou.

O fim do mundo, portanto, chegou a Piracicaba, paraíso dos novos profetas. E isso não é bom sinal: se há pastores e messias demais, há tolices em profusão. Melhor do que eu, já o advertira um promotor de que essa encrenca ainda vai dar problemas para o PROCON como publicidade enganosa: prometer o céu a troco de dinheiro e não entregar é crime. Se religião virou produto de consumo, não se deve enganar o consumidor. Deus não quer.

Por falar em Deus, não consigo entender as certezas dos “atletas de Cristo”. Pois parece haver muitos cristos em cada jogo. Gol do Palmeiras, obrigado, Senhor; gol do Corinthians, obrigado, Senhor; gol do São Paulo, obrigado, Senhor. Até hoje não sei se Deus é corintiano, palmeirense, santista, flamenguista. Ou se é vira-casaca, estando ao lado de cada time conforme as conveniências. Dessa questão de fé em futebol, no que acredito, mesmo, é em bênção do Monsenhor Jorge quando o Corinthians joga. Aliás, corintiano, ainda hoje, acredita no outro Jorge, o santo, aquele de espada na mão em luta contra o dragão. E para reforçar – que ninguém é de ferro – um bom charuto e cachaça de alambique.

Houve vez, no entanto, em que Brasília, na disputa para conquistar tolos, ganhou de Piracicaba. Um certo deputado Júnior da Câmara Legislativa – obreiro de uma igreja evangélica – vendia, aos fiéis, terrenos no céu. E tinha compradores. Pelo que sei, isso ainda não aconteceu em Piracicaba. Mas não deixa de ser uma boa idéia a criação uma imobiliária do céu. Se é para tapear trouxa, que se tapeie com originalidade. Quem tomar tal iniciativa primeiro, logo, logo, comprará rede de televisão. Bom dia.

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