Cheiros de Carnaval.

Acho, sei lá eu, que a culpa é dos filmes de faroeste, em especial aqueles de John Wayne. O fato, porém, é que “cheiro de homem”, em vez de ser atrativo masculino, passou a significar odores ruins, coisas desagradáveis. Fundamento nisso há, pois, em se tratando dos westerns antigos, os caubóis ficavam meses sem tomar banho, situação que não poderia aromas agradáveis ou estimulantes. No entanto, o mulherio do Velho Oeste também não deveria cheirar bem. Mas, como sempre, tudo o que é agradável e belo é colocado em favor das mulheres. E o contrário, em desfavor dos homens.

O formidável – nestes tempos malucos de telefones celulares deseducados e sem códigos de civilidade – é que se vão ouvindo intimidades de pessoas desconhecidas, fica-se sabendo da vida alheia, de dramas conjugais, de problemas familiares, de negócios não definidos ou nem sempre claros. Fala-se em público como se se falasse em casa. Basta ficar em qualquer sala de espera, de médico, de dentista, de laboratório – e lá estão os telefones tocando, pessoas falando, gritando, revelando coisas pessoais sem qualquer preocupação com quem está ao lado.

À espera de ser chamado, numa dessas salas, ouvi conversas, fiquei sabendo de coisas. Uma jovem senhora brigava com o cabeleireiro dela porque precisaria, urgentemente, que ele lhe embelezasse a filhota: “Ela é candidata a rainha do clube neste Carnaval. Se você não atendê-la, eu mato você.” Um outro cidadão – que, pela conversa com um terceiro, devia ser empreiteiro de obras – gritava: “O caminhão de tijolos tem que chegar até esta tarde, pois só temos dois dias antes do Carnaval. Vire-se, eu já paguei, vou processar você e sua família.” E uma jovem e bela mulher, cochichando mas não tão baixo que não pudesse ser ouvida, falava a outra amiga: “Não, eu não vou àquele salão de baile. Só vai dar homem. E você já pensou, ficar a noite inteira dançando e sentindo bodum de homem, aquela gente toda suada?”

Estranho, pois, que se fale em bodum de homem, em tempos globais, em uma época de total veneração pelo corpo, pelo exibicionismo, por uma sexualidade toda anunciada ainda que nem sempre operante. Mais tem valido a exibição do que a ação. Como, então, haver “bodum de homem” em pleno Carnaval, em clubes conhecidos, em salões respeitados? Homem, hoje, cuida-se tanto quanto mulher. Aliás, não é de hoje. Antigamente, já se cuidava, mas com certos escrúpulos e pudores.

Tomo a liberdade, antes que o Carnaval comece, a publicar, ainda outra vez, uma receita que recuperei – na antiga farmácia do João Sachs, que, para azar de todos nós, se aposentou – de como era um desodorante de antigamente, lá pelos 1940/50, quando, tirante Acqua Velva, homem não usava colônia, e desodorante, tal como hoje se conhece, não existia. Vamos lá: “prepare uma mistura de alúmen de potássio, cloreto de mercúrio e água de rosas. Depois, embeba porções de algodão no líquido milagroso e passe, nas partes interessadas, três a quatro vezes por dia.” Mas cuidado ao usar brincos e anéis, pois a mistura mágica corrói metais.

Por outro lado, se o rapagão tiver bodum muito forte, há uma receita – que pesquisei na obra do especialista em negritude, Edson Carneiro – no qual ele conta como os homens escravos faziam para se livrar do bodum, agradando as suas bem amadas. É o seguinte: cate-se um monte de esterco de boi, misture-se com folhas de hortelã ou manjericão, cozinhe-se e, depois de pronto, passe um pouco da pasta nos sovacos. E tenham um divertido Carnaval. E bem cheirosinho. Bom dia.

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