Confiar em Dilma ou explodir
Primeiramente: o feminino de presidente é, sim, presidenta. Basta consultar dicionários. Sugiro Houaiss e o do Porto. Lá está: “Presidenta: = mulher que se elege para a presidência de um país.” Logo, Dilma Roussef é a presidenta do Brasil. Recusar a correção do tratamento é ignorância, má fé ou fruto de outros propósitos. Ponto final.
Pois bem. Numa atitude de coragem, humildade e sabedoria, a Presidenta Dilma ouviu as manifestações legítimas do povo, excluindo, porém, as dos baderneiros. A convocação de todos os governos dos estados e dos prefeitos das capitais mostrou, também, sabedoria e, ao mesmo tempo, um poderoso gesto de conciliação nacional. Portanto, o povo venceu. Foi ouvido pela autoridade máxima do país que, em contrapartida, determinou o início de metas fundamentais para que se resolvam, com planejamento sério, os graves e grandes problemas nacionais. Assim, o povo conseguiu, de forma direta, o que nunca foi obtido através de nossos representantes nos diversos níveis do Legislativo. Este poder, aliás, é um dos responsáveis pela nossa fragilização democrática.
Ora, é preciso agora – creio eu – estabelecer-se a diferença essencial entre opções e alternativa. Opções podem ser muitas, diversas as escolhas. Alternativa é isso ou aquilo, sucessão de duas coisas, cada uma por sua vez. E as múltiplas reivindicações populares acabaram, felizmente, empurrando-nos para a alternativa que se ofereceu ao Brasil a partir do momento em que a presidenta Dilma “ouviu a voz do povo”: ou confiar nela, aguardando a efetivação das providências anunciadas, ou continuar com movimentações que, inevitavelmente, nos levarão a uma explosão social e institucional irremediável.
O mundo todo está de olho no Brasil, perplexo com os acontecimentos. Afinal de contas, não há como negar – pois isso é reconhecido no concerto das nações – o atual estágio de desenvolvimento brasileiro, apesar dos graves problemas que ainda temos. Por quê e contra quê o povo brasileiro – num momento auspicioso de nossa história – protesta? Se o mundo se assusta, os brasileiros sabem: a corrupção endêmica, a fragilidade e ineficiência de instituições e de serviços, a injusta distribuição de riquezas, e tantas e tantas mazelas ainda não resolvidas. E os protestos se justificam por uma razão ainda mais sólida: se, antes, o povo não tinha o que perder – de impotente e miserável que era – agora, tendo-se fortalecido, quer perder o que já conseguiu.
E será profundamente injusto e maldoso – ou perfidamente interesseiro – negar que Dilma Roussef tem sido uma presidenta decente, eficaz, séria e íntegra, além de suas raízes históricas de lutas por tudo isso que, hoje, os brasileiros reclamamos. Dilma Roussef tem sido, também, refém das maléficas estruturas político-partidárias brasileiras. Hoje, no Brasil, nenhum chefe do Executivo – desde o prefeito da mais humilde cidade à presidenta da República – consegue governar, administrar senão através de acordos, nem sempre limpos, com os partidos políticos. É um vicioso e viciado sistema que, este sim, precisa ser totalmente reformulado. Com Collor, com Fernando Henrique foi assim. Com Lula também e, agora, com Dilma. Os coronéis dos partidos estão pouco interessados na nação, embriagados pela insaciável fome de privilégios e de interesses grupais.
Se – neste cada vez mais grave momento da vida nacional – o povo brasileiro não confiar na sua presidenta – reconhecida e reconhecível como mulher firme, íntegra e competente – estaremos sendo, inevitavelmente, levados em direção ao caos. Pois é preciso ser muito ignorante ou ingênuo para acreditar não haja, em tantas manifestações, grupos com interesses ocultos ainda que bem definidos para eles mesmos.
A presidenta Dilma Roussef – ouvindo o povo e abrindo o governo para a população ordeira – apresentou-nos como que uma bandeira de paz. Ou um pedido de armistício. Ou, ainda e melhormente, um voto de confiança que, também, dependerá de outros atores políticos. Dilma Roussef não nos ofereceu opções, mas a alternativa válida e séria para este momento: ou confiar nela ou instigar a explosão total. Esta é a alternativa. As opções são muitas: agitar, badernar, protestar por modismo, acreditar que o pior pode ser o melhor.
É uma semana decisiva, apesar dos grunhidos de políticos interessados no pior. Confiemos, pois, em Dilma, demos-lhe o voto de confiança. E, enquanto isso, ouçamos, por enquanto, o Pelé e, então, vibremos intensamente pela vitória da seleção brasileira de futebol. Não é apenas nas ruas que ecoa o Hino Nacional. Nos estádios – apesar de tão questionáveis – o povo canta, para a seleção, que ela é a Pátria de Chuteiras. Bom dia.