Consagração de pai e filho
Dá uma coceira danada para xeretar e ficar revelando as preciosidades do livro “XV de Piracicaba – 100 anos”. Mas não devo e nem vou fazê-lo. Aliás, como jornalista, até que teria o direito, pois este é bicho que mete o bico em tudo e que não resiste à boa informação. (Para alguns, a preferência é pela má notícia.) Quanto ao livro do XV, resisto. Mas a coceira – a cada olhada que dou nas páginas – aumenta. Mas seria uma chatice das grandes, como a do cidadão que sai do cinema e conta o final do filme. Os piracicabanos irão degustar a obra como um manjar saboroso.
Em conversa com alguns da equipe de redatores e com o editor, preveni em relação às discussões que a “Seleção do Centenário” – escolha dos melhores jogadores de todos os tempos – iria provocar. Eu mesmo – um dos votantes – fiquei bravo com algumas ausências, lembrando do meu time de futebol de botões onde os craques pareciam ter vida e causavam frisson. Futebol, política e religião não devem ser temas de discussões. Mas quem não dá palpite nisso tudo, em especial o futebol?
Tenho certeza de que muita gente irá embravecer pela ausência de um que outro de seus jogadores preferidos. De minha parte, até agora, não me conformo com a ausência do genial Santo Cristo que, até no meu time de botões, era uma sensação.
De qualquer maneira, “Vox Populi, Vox Dei”. E a seleção está no livro, formando, na verdade, uma elite do futebol quinzista. Até o lançamento da obra – no dia 13 de novembro, e o presidente Celso Cristofoletti prestará maiores informações – eu é que vou me deliciar com a ansiedade dos torcedores. Ou seja: com a ansiedade de toda uma população, já que o XV faz parte de nosso DNA.
Se me contenho e não vou xeretar mais, confesso não ter conseguido conter-me ao constatar que houve uma merecida e quase inédita consagração, com pai e filho – duas gerações, portanto – sendo homenageados e celebrados. São Idiarte Massariol – o homem que ainda simboliza toda a garra, a paixão, a determinação quinzista – e o seu filho, Paulinho Massariol, um dos mais completos atacantes que vestiram a camisa alvinegra. Mesmo gravemente enfermo, Idiarte certamente estará orgulhoso – e justificavelmente envaidecido – por ver que sua arte não foi apenas revelada a todo um povo, mas que se reproduziu como herança ao próprio filho.
Ao dedilhar nas teclas do computador, lembro-me apenas de uma que outra consagração de atletas que foram estrelas em duas gerações. Não vale contar com Dondinho e Pelé, pois Dondinho – ainda que Pelé, como bom filho, o considere um astro – foi um quase desconhecido jogador. Vem-me à memória Ademir da Guia, filho do também “Divino Mestre”, Domingos da Guia. E Djalma e Djalminha, também consagrados. Agora, está por aí o filho do campeão mundial Bebeto, cujo nome nem deu ainda para guardar. Quem mais? Pode até haver, mas, “en passant”, não me recordo.
E, na verdade, não tem importância. O importante, o saboroso, o que causa orgulho é saber que uma cidade consagra pai e filho, reconhecendo, neles, símbolos de uma paixão. Idiarte e Paulinho numa só seleção, isso é obra dos deuses. Pela voz do povo. Bom dia.