Correndo contra o tempo.

Alguma coisa anda fora do eixo e confesso que não sei o que é. A impressão que me fica é a de fim de mundo, que as pessoas estão correndo, desesperadas, como se tudo fosse acabar. Pode ser que elas estejam certas, mas que é uma degringolada geral é. Parece que não há tempo para mais nada, que é preciso correr, atropelar, sair em disparada, não perder um minuto. E, com isso, poucos pensam, refletem, meditam, olham. Para onde, afinal de contas, é que as pessoas estão indo? Em busca de quê?

O melhor da vida é contemplar, buscar as coisas no mais fundo delas mesmas, e isso como que não acontece mais.

Antigamente, as pessoas reparavam quando saia um arco-íris e iam contar às crianças: “olhem, Deus está fazendo uma limpeza no céu, vai haver festa, por isso o dia está iluminado.” Ou, então, diriam que haveria potes de ouro e de mel no lugar onde nasceu o arco-íris. Convenhamos: a vida era mais bonita.

E me parece ser esse o grande problema, essa falta de imaginação, essa ausência de criação, um vazio de sonhos. E as coisas estão de tal forma degringoladas que as contradições e os paradoxos se vão acentuando, cada vez mais, a ponto de se tornarem até ridículos. Pois, ao mesmo tempo em que não param sequer para pensar e contemplar, as pessoas estão indo atrás do esoterismo, do mistério, do milagroso. Estão aí os duendes, as pirâmides, os cristais, os livros de Paulo Coelho.

Algum Papa já mandou avisar que ler horóscopo é pecado.E daí como que fica o pobre povo que não tem mais nada em que acreditar? Dependesse de mim, eu começaria muita coisa de novo. Por exemplo: as histórias da carochinha para as crianças, tanto nas escolas como nas casas. É uma tragédia espiritual deixar as crianças mergulhadas em seus videogames, jogos eletrônicos, e sonegar-lhes o que há de mais imemorial na alma coletiva: os contos de fadas, de príncipes e de princesas, de reais e de rainhas. Até da Branca de Neve, tentaram tirar a poesia, transformando em relações escandalosas a sua convivência com os sete anõezinhos.

Estamos destruindo o que é ancestral. E o resultado está aí: correria louca de fim de mundo, de atropelos e de desassossego. Lamento dizê-lo, mas, para mim, o nome disso é falta de esperança. Que faz nascer o cinismo.

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