CQC, Lula, “joie de vivre”

A grande dramaturgia acontece a partir de crises e dores, seja de autores, seja dos tempos. As maiores obras literárias da humanidade nasceram do sofrimento, da reflexão profunda diante de becos aparentemente sem saídas, retratando costumes ou desvelando esperanças. No entanto, o humor e a alegria brotam, também nas artes, de momentos de bonança, de superação de dificuldades, como se autores, povos e mundos se rissem de suas tragédias anteriores.

O Brasil está rindo novamente. Apesar, registre-se, do mau humor e do materialismo amargo de eternos setores sociais que, coincidentemente, sempre se mostram nostálgicos de benesses monárquicas, de capitanias eternamente hereditárias. Os latinos tinham razão quando aconselhavam o governante a dar, ao povo, pão e circo. Pois são esses componentes vitais que, embora pareçam mínimos, permitem, ao povo, recuperar a auto-estima, gozar de tempos de alegria e de alguma fartura, incluindo a do supérfluo necessário. Ora, quando grande parcela do povo se rejubila por poder adquirir a primeira geladeira ou trocar o seu fogão, o sorriso volta aos lares, a confiança estimula as famílias, criam-se perspectivas para o futuro. De tijolo em tijolo, constrói-se a casa.

Desgraçadamente, uma certa imprensa brasileira, associada a setores de antigas classes dominantes, se tornou especializada, ou viciada, em semear desânimos, desesperança, tristezas. Para elas, o Brasil precisa ser sempre “o país do futuro”, desde que este nunca chegue. E, por isso, sempre lhes foi insuportável participar de momentos históricos em que a nação se ergueu do desânimo e assumiu seu próprio destino. Aconteceu com a arrancada desenvolvimentista de Juscelino Kubistchek, tinha acontecido quando Getúlio Vargas fundou – pois essa é a verdade – o Estado brasileiro, ampliando-se quando o mesmo Getúlio assumiu o comando nacionalista do “petróleo é nosso”. Ainda hoje, as mesmas forças de antigamente tentam fazer com o que Estado rasteje e com que o petróleo seja dos outros, os de sempre. Golpes militares e de Estado interromperam aquelas trajetórias. Agora, não há mais como fazê-lo, pois golpistas já se preparam para vestir seus pijamas.

Na Era Juscelino, o Brasil voltara a rir, como se recuperasse os tempos da velha boêmia carioca, que convivia com Getúlio como se ele fosse um paizão, ainda que autoritário. O Brasil brincava e caminhava: “O sorriso do velhinho faz a gente trabalhar.” E, com Juscelino, foi Juca Chaves o verdadeiro menestrel da alegria coletiva, brincando com um presidente “pé de valsa”, fazendo o povo cantar:”Vai voando, Nonô, vai voando.”

Ora, é preciso ser neuroticamente negativista ou estupidamente fanático para não perceber e não admitir os novos tempos do Brasil, tempos jubilosos, sim, de grandes promessas e de realidades palpáveis, que dependerão de nós, povo, para se concretizarem de vez. Todos os índices, todos os analistas, todos os observadores prognosticam um Natal de alegrias brasileiras, com o povo vivendo momentos de descontração e de bem estar por poder presentear filhos, pais, amigos, familiares nem que seja com um mínimo possível, mas que faltou até recentemente. Eis a jubilosa realidade: o Brasil volta a sorrir. E só não o percebem os negativistas irremediáveis ou incuráveis.

E um dos mais significativos testemunhos desse tempo de descontração, de confiança, de bom humor está no sucesso estrondoso do programa CQC, num humorismo tão inteligente que faz lembrar, em versão eletrônica, o que foi o humor de jornais e revistas dos tempos de Juscelino e, depois, até mesmo “O Pasquim”, antes dos horrores do AI-5.

A turma do CQC chega ao Presidente Lula, à dona Marisa Letícia, Primeira Dama, com a leveza de quem está tratando com amigos pessoais, sem perder o respeito e sem atingir a dignidade do Poder. O presidente e a primeira dama riem-se dos moços e com os moços, em terrível contraste com os políticos mal-humorados – alguns também do PT – que fogem à picardia brasileira que retornou. Quando humoristas inteligentes e honestos conquistam a simpatia dos caricaturizados é porque, entre o Poder e o povo, se estabeleceu uma cumplicidade respeitosa. Isso não aconteceu durante a ditadura, mas ocorreu com Getúlio e com Juscelino Kubitschek. E acontece, agora, com o presidente Lula. Isso é alvissareiro e auspicioso. Pois o Brasil readquire o que de melhor existe em nossa gente, em nossa cultura, em nosso povo: a alegria de viver, a picardia, o “joie de vivre”. Com alegria, vai. Bom dia.

Deixe uma resposta