Delfim Neto, Lula e caridade

Delfim NettoNa minha longa, já longuíssima jornada, tive o privilégio de conhecer figuras exponenciais da vida brasileira em quase todos os níveis e áreas de atuação. Vi-me diante de santos e de pecadores, de  canalhas e de virtuosos, e, enfim, da multiplicidade humana. No universo político, a diversidade parece, em meu entender, beirar o infinito. Há de tudo.

Dentre os que mais me impressionaram positivamente, consigo, ainda hoje, destacar três deles: Juscelino Kubitschek, por seu dinamismo e simpatia irresistíveis; Carvalho Pinto, por sua integridade moral icônica. E Delfim Neto, por sua cultura, lucidez e inteligência. Talvez, Delfim tenha sido o mais surpreendente dos homens públicos que conheci. Ele conseguia unir o quase impossível: o pragmatismo e o idealismo.

Pensei que jamais compreenderia pudesse, Delfim Neto – com toda aquela inteligência, cultura, conhecimento, sensibilidade social e realismo –  ter-se tornado um dos construtores da ditadura civil-militar. Parecia uma contradição irreparável. No entanto, ao falar disso – ainda no Poder, que  exercia com competência única – ele se definia: “Sou Socialista Fabiano.”  Deveria ser assustador, mas quem conhece um mínimo do que seja o Fabianismo verá que Delfim Neto sempre foi honesto em suas convicções. O Socialismo Fabiano foi e tem sido – e ainda é, em seu ressurgimento – aquela terceira via que tanto incomodou comunistas, fascistas, liberais. Dele nasceu o “Estado de Bem Estar” da Inglaterra, em busca do qual Barack Obama está em busca até hoje. Mas não me é oportuno, agora, discorrer – mesmo superficialmente – a respeito disso.

O fato é que essa convicção de filosofia política de Delfim Neto – que muitos desconhecem, levando-os a suspeitar de suas posições – explica, hoje, o declarado e ostensivo apoio que ele dá a Lula e à presidenta Dilma. Como pode – eis que devem pensar muitos – um homem, que foi como que o Primeiro Ministro dos governos militares –  apoiar Lula e Dilma, assessorá-los na orientação político-econômica do Brasil? A resposta está lá: Delfim Neto continua sendo um Socialista Fabiano. Que não renega e nem combate o capitalismo, mas que deseja humanizá-lo, dando melhores condições de vida aos menos protegidos.

Numa recente entrevista ao competente  jornalista Roberto D´Avilla – que lhe perguntou o porcentual de sucesso  que  daria a Lula – Antônio Delfim Neto imediatamente respondeu: “95%!” E destacou e exaltou a inteligência privilegiada de Lula, sua sensibilidade social, suas percepção e intuição, a capacidade de enxergar os sinais dos tempos. Lula, para Delfim, é o grande nome da política brasileira. E, nessa afirmação, ele repete o que o bruxo Golbery do Couto e Silva,. geopolítico  – que Glauber Rocha chamava de “Gênio da Raça”, e que se opunha à linha dura militar – já percebera. Para Golbery, Lula surgia – no sindicalismo – como uma poderosa liderança que poderia ser fundamental para um novo Brasil.

Delfim Neto, ainda agora, propõe a melhor das soluções, que Dilma também procura: um Estado forte, sem ser tirânico, com um mercado livre mas regulamentado. Isso, é óbvio, incomoda, irrita e inquieta os defensores do domínio amplo, total e sem lei do mercado selvagem.

Como a confirmar esse humanismo – que a tantos ainda pode estranhar – Delfim Netto respondeu à última pergunta de Roberto D´Ávila. O jornalista indagou-lhe qual o bem mais precioso que ele encontrara ao longo de sua já também longa jornada. Delfim Neto respondeu: “A Caridade”. E mais não disse. Nem precisou. Bom dia.

2 comentários

  1. Luiz Fernando M. Ferraz de Arruda em 16/04/2014 às 21:57

    Delfim Netto é o nome genérico de Antônio Delfim Neto. É o mais craque dos malandros políticos brasileiros. Cobra-cega… cavador, ou seja, cavou seus próprios túneis utilizando seu crânio. Participa de governos desde os tempos de Carvalho Pinto e gostou e ficou secretario do Laudo Natel. Foi a favor do AI 5 como Ministro da Fazenda do General Costa e Silva em 1967. No período Militar de 1969/1974 continuou como Ministro da Fazenda e, depois foi uma farra com o governo João Figueiredo: da Agricultura ao Planejamento – depois embaixador na França. Fora Coroa-Brastel e o milagre brasileiro.
    Há 109 anos a Noruega moderna se tornou independente da Suécia. Aos 86 Delfim Neto deseja humanizar o capitalismo. Ainda bem que cobra-cega não é peçonhenta.

    Em tempo: a tartaruga é o símbolo da Fabian Society.

    Saúde Cecílio. Abs…

  2. Eloah Margoni em 25/04/2014 às 12:21

    Respeito bastante o maravilhoso Cecílio, e não tenho conhecimento para opinar muito na questão. Mas desconfio demais de quem está sempre de braços dados com o poder, sem nunca se queimar com ninguém! É bem suspeito. Nosso admirado Cecílio, aliás, é um homem que nunca conseguiria fazer tal coisa.

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