Deus e o futebol

A FIFA, órgão máximo do futebol mundial, deu um puxão de orelhas na Seleção Brasileira em virtude de manifestações religiosas que nossos craques têm, habitualmente, feito antes e depois de partidas. A FIFA não admite o envolvimento de religião e de política com o futebol, prevendo sanções graves aos que se desviarem das regras.

De minha parte, confesso minha desconfiança de que a advertência tenha algum sentido prático pelo menos individualmente. Pois, no Brasil, futebol, religião e superstições estão intimamente ligados. Houve época, em que dirigentes de clubes mandavam pais de santo fazerem “trabalhos” para prejudicar o time adversário. A prática chegou a ser tão comum que surgiu a frase definitiva e explicativa: “Se macumba valesse, o campeonato baiano terminaria empatado.”

Na verdade, não se sabe o que há de religiosidade, o que há de superstições entre os atletas, que costumam ser sincréticos em suas devoções: catolicismo, candomblé, espiritismo, linhas ditas evangélicas. Nos últimos anos, surgiram os “Atletas de Cristo”, jogadores ligados a grupos religiosos que, pelo visto, acreditam piamente em que Cristo estará a favor deste ou daquele time, deste ou daquele jogador. São situações curiosas e instigantes.

Se um jogador marca um gol no adversário, sai correndo, olha para o alto, aponta o dedo, agradece a Deus. Logo depois, o adversário também marca o gol, repete os mesmos gestos e também agradece a Deus. Isso, pelo menos para mim, desperta grande curiosidade: afinal de contas, para que time Deus torce? De qual clube, Cristo é aficcionado?

No jogo entre Corinthians e Internacional, parece que Deus fez uma manobra diplomática, bem ao tipo de “ficar em cima do muro”. Deu empate, o que significa que Deus, numa final de campeonato, decidiu agradar a gregos e a troianos. Mas, como o Corinthians levou o título, sinto-me fortalecido numa antiga e vigorosa convicção. A de que Jesus Cristo, se estivesse de volta cá nessa cultura brasileira, seria corintiano, junto com o povo, com as massas sofridas, pobres, de quem o Corinthians é a voz dos que não tem voz. Na arquibancada, no meio da Gaviões da Fiel, nem Jesus resistiria a tanta felicidade. E bom dia.

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