Dois lenços no bolso

Ora, naqueles tempos, os moços andavam com dois lenços, um em cada bolso traseiro das calças ou nos bolsos do paletó, quando se usava paletó. Fazia parte de hábitos civilizados, um dever de cavalheiros. Um dos lenços era para uso pessoal; o outro, para emergências, como o de atender lágrimas ou os sussurrantes espirros da namorada.

Naqueles tempos, as namoradas espirravam sussurrantemente. As atenções eram tantas e tamanhas que – e não se assustem e nem riam os jovenzinhos de agora! – que, ao se tirar uma jovem para dançar e sendo ela pouco conhecida, colocava-se um lenço na mão direita, para que o suor não incomodasse a moça cortejada. E isso não faz tanto tempo assim, não era da época do minueto, não, pois essa eu não a conheci.

Dançava-se ao som de boleros e de sambas-canções com um lenço na palma da mão, não era interessante? Pois bem. Muita gente sempre implicou com o fato de, ainda, eu andar com dois lenços nos bolsos. Ora, sou homem à antiga, já me cansei de confessá-la, que hei de fazer?

Sou de abrir porta de carro para mulher entrar, de puxar-lhe a cadeira para sentar-se e só não beijo a mão, para cumprimentar, com medo de levar um tapa na cara, pois isso quase já me aconteceu. Lembro-me de uma noite, num restaurante de São Paulo, num jantar onde estávamos alguns escritores, jornalistas. Ela tomou do cigarro, apressei-me a, com meu isqueiro, acendê-la. A coleguinha me olhou, quase ofendida, falou: “Ih, você ainda é desse tempo? Que coisa mais antiga!” Pois é. O fato, porém, é que o uso de dois lenços continua atual, basta ser cavalheiro.

Lembro o que aconteceu com a Paula, quando recebeu o título de “Cidadã Piracicabana”. A encantadora coitadinha chorava de dar dó, emoção e alegria. As lágrimas escorriam, ela não tinha lenço. A seu lado, um fotógrafo. Paula pediu-lhe um lenço e o moço – tinha que ser moço, como não? – entrou em pânico: ele não tinha um só no bolso, imagine se haveria de ter dois.

Então, um cavalheiro se ergueu, aproximou-se da Paula e, cortesmente, estendeu um dos dois lenços que trazia no bolso. O que eu quero dizer com isso? Nada, a não ser que há gestos e comportamentos que, por mais brutalizada se torne a civilização, jamais perdem o seu encanto.

E aposto que a Paula jamais haverá de se esquecer da noite em qye um cavalheiro lhe estendeu um lenço onde ela secasse suas lágrimas de emoção. Bom dia.

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