Dona Dilma, Dona Hebe.

Sempre me espantei com amigos meus que, ainda agora, insistem em fazer a mesma afirmação: “Se fosse para começar tudo de novo, eu faria igualzinho ao que fiz.” Espanto-me. Pois, de minha parte, sinto que eu faria, quase tudo, diferentemente do que fiz. Ou não é burrice querer repetir, aos 70 anos, o que se fez aos 20?

A vida do ser humano é o somatório de sua experiência de existir. Passos firmes, passos errados, decisões corretas ou incorretas, escolhas acertadas ou equivocadas, tudo se vai somando e, ao final, compõe aquilo que se é. Logo, o ser humano é uma construção. E, nesta, entra tudo: tijolo, telha, teia de aranha, pó, poeira, mármore, belezas e feiuras.

Penso nisso por causa da Hebe Camargo. A estupidez do intelectualismo estéril de minha geração fez-nos rotular a Hebe Camargo de maneiras pouco lisonjeiras. Ora víamos como mulher ignorante, ora como “a serviço da direita radical”. E, na realidade, o intelectualismo daquele época nos impedia de ver, em Hebe Camargo, a extraordinária pessoa humana que ela é, a comunicadora nata e privilegiada, personalidade diferenciada. E não foi, também, o que aconteceu em relação a Roberto Carlos? Pois Roberto Carlos, tanto quanto a Hebe, estava colocado no rol dos cantores alienados, descomprometidos, assim por diante. Hoje, Hebe Camargo é a Primeira Dama da televisão brasileira, sem contestações, sem discussões e com uma unanimidade que nada tem de burra ao estilo rodrigueano. E Roberto Carlos continua Rei.

Confesso não ter visto toda a entrevista – ou todas as – que Dona Hebe Camargo fez com essa que revela a grande comandante de um novo país, Dona Dilma Roussef. No entanto, o pouco que vi me consolidou uma convicção que se vinha formando a pouco e pouco: são duas mulheres notáveis, forças telúricas, capazes de criar empatias e de despertar confiança, sem que percam a feminilidade, a ternura. Esse encontro, tornado público, entre a presidenta Dilma Roussef, comandante e primeira dama do país, com Hebe Camargo, primeira dama da televisão brasileira, pareceu-me carregado de sinais e de simbolismos altamente positivos. Há uma aliança do universo feminino no sentido de corrigir descaminhos, desvios e hábitos do atualmente combalido universo masculino.

Portanto, se eu pudesse começar de novo, não iria desvalorizar a Hebe Camargo naquela medida em que tentamos desvalorizá-la há 50 anos e ao longo de quase todas essas décadas. Eu gostaria de ter olhos para ver antes, para enxergar além das aparências, para captar a alma de uma mulher realmente notável. E, quanto a Dona Dilma, fico feliz: consegui ver desde o início, consegui perceber, não me deixando influenciar pela estupidez maléfica dos que tentaram desqualificá-la, até mesmo insultando-a. Reverencio, pois, Dona Dilma Roussef, reverencio Dona Hebe Camargo. E isso me alegra. Bom dia.

Deixe uma resposta