E as raposas, ainda, no galinheiro
E eis lá que continuo, eu, cortando na própria carne. Pois ando cada vez mais apalermado com a desrespeitosa linha editorial dos chamados “grandes meios de comunicação”. Deixaram de o ser. Podem, agora, ser “meios grandes”, renunciando a ser “grandes meios”. Confesso que até aceitaria essas imposturas e manipulações, desde que, porém, fossem elas declaradas, assumidas, confessadas. Cada veículo de comunicação tem o pleno e absoluto direito de definir a sua linha editorial. A exigência ética, todavia, tem que ser a declaração honesta de suas intenções. Vejam bem: declarar é verbo que significa tornar claro, clarear. Seria o que, hoje, chamam de transparência. Mas a nebulosidade tornou-se técnica cada vez mais aprimorada de mistificação. Também na comunicação.
Venho sentindo cada vez mais pena da Presidente Dilma Roussef. Aliás, o Jô Soares, noite dessas, cometeu um deslize imperdoável – para quem tem a cultura e a experiência dele – ao negar a existência da palavra presidenta, como feminino real do masculino presidente. Penso que, já “dormindo em seu berço esplêndido”, o Jô teve preguiça de pesquisar ou de pedir que o informassem melhor. Dilma Roussef é a Presidenta, sim. E tenho pena dela. Pois essa mulher não merece a campanha pérfida, maliciosa, orquestrada, manipuladora que os tais “veículos grandes de comunicação” fazem contra ela. É mulher honesta, governante competente e convicta de suas responsabilidades. Mas querem transformá-la ora num joguete de Lula, ora numa simples mulher tola, ora numa incompetente exatamente pelo fato de ela se negar a fazer o jogo político que todos repudiamos. Ao tentar destruí-la, os “meios grandes” de comunicação, justamente por terem deixado de ser “grandes meios”, estão promovendo o retorno triunfal de Lula, que é amado e idolatrado por um complexo espantoso de admiradores: o povão – que deseja mais pão do que ideologia – e empresários, que buscam lucro sem se preocupar com a falta do pão alheio.
Ora, chega a ser ofensivo à inteligência média do leitor constatar a campanha sistemática, orquestrada, conjunta de meios de comunicação para minar a confiabilidade da Presidente Dilma Roussef. Para isso – fingindo-se defensores da moralidade política – eles não se negam a fingir de cegos em relação à sordidez também da oposição e das uniões escandalosas que estas fazem. O Brasil não sairá desse pantanal, se não houver realmente uma reforma política que livre os governantes de coligações perniciosas. No atual sistema, ninguém – nem Fernando Henrique, nem Alckimin, nem Serra, os protegidos dos “veículos grandes” – conseguiram governar sem acordos com partidos políticos interesseiros e negocistas. Ou já quem se esqueceu da compra de votos que o governo de FHC precisou fazer para conseguir a aprovação do segundo mandato? E o escândalo das ambulâncias, dos sanguessugas, o “mensalão tucano” onde e quando tudo começou? Por que o silêncio sepulcral, senão por uma imoral tentativa de mal informar ou de manipular a informação?
As manifestações nas ruas – muitas delas suspeitas – acabarão por redundar em apenas uma festa cívica, mas inútil, se as mudanças desejadas e necessárias ficarem sob a responsabilidade desse Congresso Nacional que, na verdade, é a fonte e a causa de todos os nossos problemas. Lá se instalou um balcão de negócios, uma instituição de troca-troca, o covil onde se aprisionam presidentes da República. Ou eles fazem acordos ou não governam. Configurou-se um jogo sujo, sem outra alternativa. Ora, se o povo se levanta exatamente contra essa choldra de deputados e senadores – admitam-se exceções que, no entanto, não servem para nada – como será possível que exatamente eles venham a ser os promotores das reformas? É um insulto à nação, pois, outra vez, iremos permitir que as raposas cuidem do galinheiro.
Há, no Brasil, um histórico de impossibilidade de governar sem se submeter aos caprichos do Congresso, que é defensor de seus próprios interesses já há muitas décadas. Getúlio Vargas quis reagir, suicidou-se;Jânio Quadros tentou enfrentar, caiu; Collor, com sua empáfia ditatorial, quis se impor, foi escorraçado; FHC e Lula apenas governaram porque negociaram. A diferença é que a “imprensa grande” considerou genial a articulação dos tucanos, mas imoral a dos petistas. E os comportamentos foram rigorosamente iguais.
Quando da elaboração da atual Constituição, José Sarney criou uma comissão de inteligências excepcionais e dignas para elaborar um projeto que seria submetido ao Congresso. Ulisses Guimarães boicotou. E quis que os congressistas fossem, eles próprios, os autores da carta magna que ele chamou de “constituição cidadã”. Deu no que deu.
A luta do povo terá que ser, em meu entender, para que as reformas sejam propostas por entidades representativas do povo e, então, submetidas ao Congresso. Um processo inverso, portanto. Pois as raposas irão devorar todo o galinheiro. Aliás, numa reforma política deveria haver uma cláusula especial: “Quem já foi ou é, não pode ser mais.” Seria a faxina geral. Bom dia.
Não consegui postar meu comentário. Já aconteceu isso em outras ocasiões. Algum erro de minha parte? Eu clicava em enviar mas nada acontecia.
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