E Fidel avisou…

A instituição do pensamento único, do consenso de Washington, do politicamente correto têm sido notáveis para a extinção gradativa da capacidade de reflexão do mundo ocidental. Criaram-se convicções pétreas, certezas absolutas e não se admitem contestações. Assim, tudo o que for bom para os Estados Unidos será bom para o mundo, nem que sejam escandalosos golpes bancários e colapsos criminosos à economia. E, por outro lado, tudo o que vier do Oriente ou do mundo socialista não deve ser levado em consideração, muito menos respeitado.

O caso de Cuba e de Fidel Castro é sintomático. Há mais de 50 anos, Cuba resiste às opressões, repressões e obstáculos impostos pelo governo estadunidense. Sua economia claudicante sobrevive a duras penas e, mesmo assim, houve extraordinários avanços na medicina e na educação, pelo menos nisso. No entanto, as ditaduras árabes, amigas dos governos das principais potências ocidentais, são suportadas, estimuladas, aceitas e até mesmo tratadas com distinção. A ditadura dos amigos vale; as dos que não rezam pela bíblia de Washington são péssimas.

Por isso, não se dá atenção ao que proclamam, avisam e advertem lideranças do mundo socialista, tratadas como beócias ou como inimigas irreconciliáveis. A China precisou impor-se ao mundo pela força de sua economia para ganhar respeito – ou medo? – mesmo sendo um regime comunista feito, também, de crueldades e de desrespeitos aos direitos humanos.

O mundo árabe tornou-se um barril de pólvora e as causas principais – a menos que nos sujeitemos ao pensamento único – não estão na defesa ou na construção de democracias, mas nos oceanos de petróleo sob a areia, enquanto o mundo ocidental começa a afogar-se na carestia, na carência de energia e na fragilização de suas economias. Há tiranos no Oriente Médio? Sim. Mas faz tempo. E o Ocidente começa a pagar o preço pela parcialidade dos Estados Unidos em defender direitos de Israel mesmo quando o jovem país se transformou em pequena cópia do hitlerismo, em relação ao povo palestino.

Agora, o mundo assiste a uma nova violência internacional, ao poder das armas sobre um pequenino país governado por um tirano de fancaria que, até aqui, sentava-se à mesa com Bush e Obama, com Sarkozy, com Berlusconi, com premiês britânicos. O que mudou tão de repente, a não ser o desespero pelo controle de fontes energéticas, o medo de o Irã conseguir liderar um mundo árabe tão desarticulado?

Fidel Castro foi o primeiro a advertir, tão logo começaram as escaramuças: “A OTAN irá invadir a Líbia por decisão dos Estados Unidos.” Ninguém se importou, como se fosse a voz de um fantasma. E está acontecendo, no início de um processo guerreiro que não se sabe como, onde e quando terminará, pois há um efeito cascata, com turbulências que se espalham, em tumultos contagiosos e contagiantes. Os Estados Unidos entraram em um outro atoleiro. E Barack Obama parece estar sendo um simpático inocente útil, apenas isso. Bom dia.

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