“É o Aécio, o estúpido!”

EstúpidoNa campanha, nos Estados Unidos, em que Bill Clinton enfrentava George Bush, pai, os marqueteiros descabelavam-se para tentar interpretar o desenrolar dos acontecimentos, as mudanças nas pesquisas de opinião pública. Um dos principais assessores de Clinton, James Carville, foi indagado pelos jornalistas do porquê dos esforços do partido e qual a tônica da plataforma de governo. A resposta de James Carville se tornou frase clássica: “É a economia, estúpido.”

Agora, na campanha de José Serra, a perplexidade toda, a perda de rumos, a indefinição, a noção de barco sem rumo parece ter uma explicação, que tenta justificar vazios e expectativas: “É o Aécio, estúpido!” Pois, pelo que tudo indica, enquanto Aécio Neves se dá ao luxo e ao grande prazer de – simpático, afável e assumido “bon-vivant” que é – divertir-se no exterior, o tucanato vive a angústia de uma paralisia sem sentido. Para a maioria do partido, sem Aécio como candidato a vice-presidente, José Serra perde. E o significado disso é simples, óbvio, até mesmo singelo: quem tem carisma e quem tem votos é Aécio Neves. Fica, então, a pergunta: por que não é, então, Aécio o candidato do PSDB, já que, inegavelmente, tem mais atrativos, mais charme, um histórico como político que agrada o povo além de demonstrar grande habilidade administrativa?

A situação está cada vez mais curiosa e eu diria até que divertida, não houvesse uma dramaticidade melancólica em tudo isso. A oposição denuncia Dilma Roussef como criação de Lula e que sua candidatura depende da capacidade de Lula transferir prestígio e votos para ela. Mas a mesma oposição não confia no carisma de José Serra, aguardando que Aécio Neves se decida e, então, transfira votos para o candidato que, aliás, sempre foi assessor das lideranças tucanas. Assessor de Montoro, assessor de Covas, assessor de Fernando Henrique, um especialista em gerenciar decisões de líderes superiores. E Dilma Roussef, que tem sido criticada por falta de experiência política, tem toda uma carreira quase que na mesma situação gerencial de Serra: assessorando governadores e a presidência da República.

Aliás, conversando com um amigo, perguntei-lhe qual o motivo para ele querer votar em Serra. Ele pensou, pensou, deu de ombros: “Porque é preciso haver rotatividade de poder.” Seria o caso, então, perguntei-lhe, de se votar em Mercadante, para tirar o PSDB de vinte anos do poder em São Paulo? Ele não respondeu, mas admitiu que Serra teria que continuar o governo de Lula. Portanto, se é para continuar, parece que Dilma está no lugar certo; se é para mudar, mude-se, também, São Paulo. As coisas são simples demais, mas se tornam confusas quando falta reflexão.

A peça “Esperando Godot”, de Becket, em seu surrealismo e requinte de absurdo, parece definir bem o que está acontecendo no tucanato, “esperando Aécio”. Na peça, o tal do Godot nunca aparecia, não apareceu, ninguém sabia de quem se tratava. Na campanha tucana, sabe-se quem é Godot, conhecido por Aécio, mas ele parece zombar das lideranças paulistas, divertindo-se enquanto os vê chupando o dedo. O surrealismo está na simplicidade das coisas: se Aécio é tão importante e tão definidor assim, por que não é ele o candidato à presidência pelo PSDB? De qualquer maneira, a explicação para a espera, a indefinição, a paralisia está paródia da resposta de Carville: “É o Aécio, estúpido.” Bom dia.

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