Educar filhos em casa

picture (10)Nas Minas Gerais, um casal poderá perder a guarda dos filhos adolescentes, ser punido e até mesmo preso pela opção educacional que fizeram. Pai e mãe – de famílias judias – decidiram dedicar suas vidas não apenas à educação e formação dos filhos em âmbito familiar, mas, também, na educação formal. E decidiram: eles, pai e mãe, seriam mestres e professores de seus filhos; na casa, no lar estaria a escola, substituindo a escola formal, seja lá do Estado, seja lá particular. Antes de prosseguir, o detalhe, em meu entender, fundamental, impossível de ser minimizado: os filhos do casal, prestando exames vestibulares como trainees – um garoto de 13 anos, outro de 12 – foram aprovados, com performances admiráveis.

O Ministério Público, no entanto, considera criminosa a opção feita por aqueles pais, homem e mulher de alto nível universitário, com rigorosa formação acadêmica. Eles, segundo o promotor de Justiça, estariam sendo irresponsáveis na guarda dos filhos. Disso, pensar o quê? Dizer que faliu o sistema de ensino formal, que escolas não mais cumprem sua função? Dizer que família e escola não mais se entendem e nem se complementam?

Ora, dizer, tudo há a dizer desse caos insuportável do ensino, da educação formal. Mas os grandes vilões seriam, mesmo, a escola, a educação formal, o Estado, os governos? Ou – da mesma forma como o ousado enfrentamento daquela família mineira à péssima educação formal no País – não deveria remeter-nos à ausência da família na educação e formação dos filhos? Pois a escola não suporta tudo. Quem suporta, na realidade, é a família. E foi a lição que o casal mineiro nos deus, não para questionar a legalidade de nos obrigarmos ao ensino formal, mas para ampliar conceitos ou retornar às fontes e às origens.

A primeira responsável é, sim, a família. A escola suplementa. Num passado não tão distante, pais e mães eram pais e mães. E mestres, mestres. Pais amavam; mestres ensinavam; lar e escola educavam, em harmonia e sem confrontos. Afinal de contas, amar é cuidar. E cuidar, educar. Quem ama cuida, quem cuida educa.

De qualquer maneira, penso que a iniciativa do casal mineiro – cujos filhos mostram-se felizes com o aprendizado feito em casa, que os distingue dos demais – e a reação de um dos braços da Justiça deveria motivar uma profunda reflexão a respeito do caos em que se encontra a educação brasileira. E, na discussão, incluir-se, também, o emaranhado de formalismos que engessam possibilidades de desenvolvimento humano de crianças, jovens e adolescentes. Ora, conheço situações – algumas, próximas de nós – de adolescentes que, treinando em exames vestibulares, são brilhantemente aprovados, em mais de uma faculdade. Mas, por não terem idade mínima e cursos preliminares concluídos, são impedidos de se matricularem. Qual a lógica de tudo isso, a não ser a lógica burocrática?

O Brasil continua prisioneiro das ordenações filipinas, talvez também das manuelinas, lá dos meados do segundo milênio da nossa era ainda chamada de cristã. Mas, talvez, seja mesmo tolice dissertar a respeito disso. Pois educar, o que é mesmo que significa? Bom dia.

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